quinta-feira, 28 de outubro de 2010

No fim do dia


Fim de tarde, tempo nublado, o vento que batia leve meu rosto amenizava um pouco o calor que se fazia neste dia concedido pela graça Divina.
No momento, livre de todas as obrigações diárias, só quero poder seguir meu caminho de volta para casa, onde poderei enfim esquecer todas as tarefas que me recaem para entrar em contato com o que mais almejo: uma conversa centrada no autor de minha vida.
Então num ônibus cheio de pessoas que em sua maioria encontram-se sem ânimos, cansadas e estressadas depois de uma longa jornada de trabalho, fui uma das felizardas a seguir viagem sentada, mas não por muito tempo, pois mais a frente cederia o lugar para uma senhora que estava acompanhada de seu pequeno filho, este infelizmente negou-se a sentar em meu colo. A pé prossigo o percurso para casa. Perdidas em meus pensamentos começo a contemplar o vidro da janela que se fazia molhado, pois neste momento começava a chover. Analisando as gotas, me vejo tentada a filosofar um pouco e nisso chego a uma pequena conclusão:
Somos como as gotas que escorrem pelo vidro. Algumas permanecem paradas, sem ânimos para escorrer e encontrar a imensidão em meio a tantas outras gotas que já haviam escorrido e se aglomerado; outras gotas desciam tão rapidamente em linhas retas que ao chegar ao fim, com impacto de sua velocidade eram lanças ao chão molhado e sujo sem ter como voltar atrás; e a ultima gota analisada, aquela que teve paciência e sabedoria, que escorria devagar, às vezes parava mais encontrava forças para descer, essas gotas faziam curvas mais estavam prosseguindo apesar das dificuldades em meios a tantas outras gotas que paradas tentavam impedir a caminhada das que ainda persistiam em encontrar a imensidão.
Tenho que descer, ainda tenho meia hora de caminhada, meia hora para dá inicio a novos pensamentos. Para minha felicidade, já não chove, na verdade, nem chegou a chover nesta região, pois o chão encontra-se seco. O que me permite refletir o seguinte: neste mundo cada lugar tem suas particularidades. Eu sou eu, você é você e assim se faz e assim se vive. Enquanto aqui é noite, no Japão é dia; enquanto ali chove, aqui se faz quente...
Estar escuro, o dia chegou ao fim para dá inicio ao novo amanhecer que em breve chegará para novamente vivermos e sobrevivermos. Este percurso que faço a pé é meio deserto, além de ruas, postos e outros estabelecimentos não há nada que prenda minha atenção, mas gosto de realizá-lo, me faz pensar e refletir sobre o que poderei eu fazer. Geralmente costumo conversar com meu Deus que sempre estar disposto a ouvir.
Então, lembrado-me do vidro molhado: Há momentos que não dá para não pensar em desistir, que o peso é grande demais para agüentar e que a dor é sofrida para suportar. Nessas horas, as fraquezas tomam conta e as lágrimas já se negam a ficar guardadas.
O mundo! Este pequeno grande mundo insiste em magoar. Olho para os lados: onde ficar? Para onde ir? E se eu desistir parar de sofrer e for como as gotas que não escorriam e que se limitaram a ficar presas dentro de si? Gotas essas que podem ser comparadas com as pessoas que já não se importam, apenas vivem a vida e o mundo olhando uns prosseguirem tão rapidamente sem viver e aproveitar o que de mais belo há em nosso meio; e outros que bem vivem na graça e contemplação de uma vida de dedicação, união e entregas de um mundo no qual há salvação.  Existe algo melhor e maior que me faz ter a ciência de que se eu for contra o que há em mim, não serei eu. Serei vazia e sem objetivos. Estarei vivendo uma farsa preenchida de “felicidades” passageiras. Não quero ilusão em minha vida, quero ser preenchida com uma força e uma presença maior. Essa força e essa presença eu só encontro quando dobro os meus joelhos e clamo pelo Rei e Senhor nosso. Digo nosso porque Ele não é só meu é de todos que O buscam.
Estou em casa para novamente partir. O cansaço físico não torna-se obstáculo para eu pegar meu teclado e descer a longa ladeira, passar por vielas escuras e pessoas mau encaradas.
A porta destrancada como sempre, me permite entrar com facilidades dentro da residência em que moro. Estranho, mas foi impossível não lembrar que tempos atrás, um gatinho me esperava na porta. Não sei como, mas era sagrada a presença dele no pé do portão aguardando minha chegada. Em silêncio, dou o beijo na pequena criança que janta, sem mais delongas, entro em meu quarto, retiro meu sapato e tomo meu banho, tirando de mim todos os resíduos de um mundo lá fora.
Pego meu terço, digo a minha mãe que estou saindo apesar de não obter resposta alguma, mas sei o que se passa em sua mente: mal chegou e já estar saindo. Olho para dentro digo mentalmente: fiquem com Deus que eu vou com Ele.
Mas tarde estarei de volta, não para descansar, pois meu corpo apesar de pedir uma cama não pode relaxar, minha mente se nega a parar de funcionar, ela é perseguida pelas obrigações que devo cumprir. Mas sei como já foi me dito que tenho que ser humana, que tenho limitações. Na verdade, já estou refletindo o cansaço físico. Olheiras profundas, olhar meio morto..., mas é essa atividade constante que me faz sentir viva e útil.
Prometo a mim mesma que hoje descansarei ou tentarei descansar, não por mim, mas por meu corpo, pois sei que se não o fizer, em breve não poderei contemplar outro amanhecer.
 No fim do dia... Inicio de outro que vai chegar.
São  Luis, 17/ 06/ 2010
Aline Xavier Bras

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