domingo, 28 de novembro de 2010

Em meio ao tudo que habita em mim



Não há como negar que há algo existente em meu ser, que me motiva a ir além do que meus próprios olhos podem ver; algo que me faz querer ser o que eu ainda não sou; que me impulsiona a prosseguir por caminhos certos, mesmo que eles inicialmente sejam tortos e sofridos.
Em meio a essas turbulências que em mim se faz presente, sei que o mais quero está em minha frente e ao mesmo tempo inserido mais dentro de mim do que eu mesma.
Uma força, uma presença mística e sobrenatural que só pode ser compreendida no silêncio da adoração e a força da oração. Uma oração que não há emissão de palavras, pois a mensagem percorre por um liame que só eu e o Divino compreendemos, e confesso que quase sempre não consigo decifrar esse código divinal. Então, mergulhada no mistério que me rodeia chego à conclusão de quero e desejo imensamente encontrar o maior e mais belo tesouro; tesouro este que não se constitui em matéria e sim em um céu, o Céu que está em mim. Mas muito sei que devo fazer para possuir este tesouro. Muito devo silenciar e escutar o que a mim bem no íntimo é pronunciado.
Ah...! Em meio ao Tudo que habita em mim quero adorar cada vez mais Este Deus tão próximo. E eu adoro Aquele que espera e anseia por mim. O meu Deus me dá uma total liberdade de contemplá-Lo! No altar, vendo-O crucificado, tenho a prova de que Este é presente no momento em que meu ser começa a se transfigurar. Uma emoção tão forte que me leva aos prantos por não conseguir conter essa onda de sentimentos variados que me faz culpada e inocentada; amada e odiada; merecedora e incrédula. O que Deus viu em mim? Por que Ele continua a amar-me, mesmo que eu não mereça e não faça por onde merecer? Tanto amor me é dado sem ao menos eu pedir, é tudo gratuito e sem interesse.
Mas meu coração é dividido, algo me faz temer entregar-me inteiramente a esse amor quem vem do Divinissímo Esposo de minh’alma. Outra força me prende a um mundo onde todos pouco conhecem a verdadeira essência do grande Rei. Não que eu conheça profundamente essa essência, se fosse o caso, não temeria a uma entrega total.
Em meio ao Tudo que habita em mim, quando e onde encontrarei a resposta para o quero de mim? Senhor:
Mostra-me os Teus caminhos, Senhor o que queres de mim? Dá-me o que me mandas e mandas o queiras de mim. Quero entrar em Tua casa, nos Teus braços descansar. Sentir os Teus carinhos e repousar o meu olhar em Teu olhar...”
São Luís, 30/ 07/2010
Aline Xavier Bras

domingo, 7 de novembro de 2010

Até quando

Até quando permaneceremos de braços cruzados? Até quando a Igreja será tratada apenas como um espaço físico? Até quando adotaremos dentro de nós uma fé sem ação? Até quando a maioria dos coordenadores, pregadores e evangelizadores manterão essa pose de falsos profetas? Falsos profetas porque o que eles dizem não é o que praticam e o que acreditam, falam por conveniência e por questão cultural.
Estou cansada do que venho vendo ultimamente. Revoltada por dentro em saber que não existe mais aquele Amor ao se pronunciar o nome de nosso Senhor. Cansada de ouvir pessoas falando palavras lindas e não agirem conforme dizem. Falar é fácil, mas colocar em prática aquilo que se proclama é que é a questão. Não é difícil, só basta querer.
Mas diante de tudo isso e muito mais, o que me deixa mais entristecida é ver que não se celebra mais o Santo Sacrifício; esse foi substituído a um momento de Refeição eucarística apenas.
Como é triste tudo isso. A nossa bela Igreja, casa de nosso Pai Celestial, nossa divinissíma esposa, o meu refúgio está se tornando em palco para chagar meu Senhor e meu Deus.
O que estão fazendo? Querendo implantar um ecumenismo sem discernimento para chagar no mais intimo o interior daquele que se deixou humilhar para nos salvar uma vez? O que querem que Ele faça agora? Será que ter-se deixado espancar foi pouco? Ter sido torturado, cuspido, chutado, imolado não foi o suficiente?
Como dói ter que dizer isso; como dói não poder fazer nada para mudar essa situação. Onde estamos errando?
Sinto saudade da época em que se rezava o Pai Nosso antes de entrar nas salas de aulas; sinto saudade dos grupos religiosos dentro da Igreja; sinto saudade de ver esses grupos cheios de pessoas desejando intensamente ter um liame direto com o nosso Senhor; sinto saudade de ver o Sacerdote realizando a homilia com paixão e consagrando a hóstia com lágrimas nos olhos, pois este não continha a emoção de ter ali bem próximo o Corpo de Cristo.
Meu Deus, até quando as pessoas em sua maioria vão se portar dessa maneira diante do Amor que não se acaba e nem se abala com tudo o que vem acontecendo?
Até quando...
São Luis, 25/ 07/ 2010
Aline Xavier Bras

sábado, 6 de novembro de 2010

É loucura da cruz



Dizem que é loucura sair nas ruas falando de um Jesus; dizem que é loucura falar da grandeza de um Senhor; dizem que é loucura seguir um Cristo nu; é loucura preencher “um vazio do tamanho de Deus”.
Mas nesse mundo onde o errado parece ser certo, não é loucura ir de encontro a uma vida mundana marcada pelo egoísmo, o individualismo, a vaidade e a escravidão em uma vida que proporciona uma falsa liberdade. Não é loucura ir deitar-se cedo na cama confortável esquecendo-se do irmão desabrigado que dorme ao relento por cima de caixas velhas; não é loucura acordar, fazer a oração da manhã com um banquete na mesa, enquanto o vizinho do lado não tem um pão seco para dá ao filho; não é loucura mediante a tais ações abrir a boca e dizer: eu sou um religioso!
Mas na incessante busca de preencher o vazio dentro de mim, na certeza de que Deus me ama e está amando-me, eu deixo o amor amar, e vivendo a ação desse verbo, digo que não é loucura da cruz e nem pode ser pelo simples fato de eu seguir não um Deus, mas sim O Deus, o Senhor e o Jesus, isso porque Ele é único.
Na vida, é assim, uns sabem reconhecer o quão dependentes somos deste Ser superior que ninguém jamais viu, mas em nosso íntimo já sentimos. Muitas vezes é difícil admitir que exista tal Verbo encarnado agindo em nosso favor, carregando-nos no colo quando tudo parece difícil e sem solução. Mas o fato é que não precisamos de provas para perceber que existe algo além de nossa compreensão limitada e humana; que há milhares de anos alguém foi capaz de amar o mundo de tal forma que entregou o seu próprio filho e que Este, sem pensar duas vezes ou levantar algum questionamento, morreu em uma cruz de braços abertos dizendo: “Pai, perdoa, pois eles não sabem o que fazem!”
A mim, na sede que tenho não cabe outra escolha a não ser viver a loucura da cruz. Se para os cegos do amor incondicional serei considerada louca por carregar no peito não uma, mas duas cruzes; louca por ir ao encontro do desabrigado e necessitados que nas ruas estendem as mãos implorando muitas vezes não por um trocado, mas por um pouco de compaixão e humanidade; louca por anunciar àqueles que convivem comigo a boa nova e em orações expressar a face do Divino que habita em mim; louca por sonhar em alcançar a santidade e não a prosperidade de um mundo capitalista, que seja assim. Serei uma louca que na religiosidade se iguala aos pequenos ou no mínimo vai ao encontro deste. Serei uma louca que reconhece o tamanho do sacrifício da cruz que se entrega a todos os momentos se fazendo bem pequeno somente para que eu possa alcançá-lo.
É loucura, loucura da cruz!
São Luis,05/ 11/ 2010
Aline Xavier Bras 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Somos ovelhas de Deus

E chegaram-se a ele todos os publicanos e pecadores para O ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso; E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. "Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” (Lucas 15, 1-7).


Ele sente falta...  Seu rebanho encontra-se incompleto porque está faltando aquela que é a mais importante. De feição doce e angelical, traços inocentes e expressão reluzente de uma alegria que contagia todos os que estão envolta. Seu coração permanece triste, a sua ausência dói muito. Ele olha em volta e imagina os saltos, a candura de um sorriso espontâneo de uma ovelha que conheceu a paz que reina em vales verdejantes. Sua ausência não é suportável, Ele deixa todos e sai em busca daquela que se perdeu.
Do outro lado, em meio à angústia, solidão, temor, fome, miséria, desesperanças... Sua alma em pleno desespero clama em silêncio ao lembrar o paraíso que viveu.
Abandonada por todos, ignorada e desprezada, esta, sem forças tenta, mas não consegue encontrar o caminho que a levará de volta para sua casa. A prisão de um mundo de “liberdade”, onde tudo era permitido, turva sua visão e tapa os seus ouvidos. Esta é prisioneira de uma vida não vivida, de um falso amor que ainda assim foi passageiro.
Duas almas: uma que salva e liberta, outra que precisa ser salva e libertada; resgatada para o mundo que perdeu.
O Pastor não se cansa, corre e olha em todos os cantos. Seu objetivo é um só: encontrar sua jóia rara. Enfrenta guerras em territórios que não são os seus, ultrapassa seus limites, mas não desiste. Se tiver que ser imolado, sem pensar duas vezes ele entrega sua vida por aquela que jaz em campos desconhecidos.
Ele procura e a encontra..., Ele a encontrou e suas feições notou. Seu coração exulta ao mesmo tempo de alegria e tristeza. O que fizeram com minha ovelha? Onde estar o brilho em seu olhar? O sorriso de inocência que contagiava suas irmãs? A vida em sua alma? Por que tanta solidão e chagas em seu coração? O que fizeram com a filha minha? Seu olhar agora é vago, seu semblante sofrido e enrijecido.
A filha, em meio às lágrimas tenta se levantar e correr para os braços daquele que resplandece a esperança que lhe dará a vida. Luta e tenta retirar de suas dores forças para agarrar o Pastor que irá lhe restaurar. Sua alma clama: vem, vem até mim! Olha pra mim e me tira daqui. Não suporto mais; tenho medo, muito medo. Vem me devolve a alegria de viver, ou ao menos do Teu lado me deixa permanecer, mas não me deixa aqui.
O encontro, a paixão e a emoção presente em dois corações chagados pela ausência e pela solidão.
O Pastor, no ato de compaixão e emoção, pega com toda a delicadeza a pobre ovelha que não tem forças nem para agradecer, mas sabe reconhecer que sobre os ombros deste estará segura e que nunca mais irá se desprender.
Hoje muito pensei neste símbolo cristão cujo significado é inundado de beleza, aliás, quanta exuberância contida nesta parábola, que retrata a total paixão de Jesus por cada um de nós!
Mas, por que a ovelha?
A ovelha é um daqueles animais que não sabe voltar para seu rebanho caso se separe dele. Bem diferente do cachorro ou do gato que sempre encontram o caminho de volta para casa, a ovelha permanece perdida e desnorteada. Este frágil animal, de feição doce e angelical é dependente de um pastor que a leve para o rumo certo.
E o que nós somos quando nos separamos do Pai Celestial? Não sabemos voltar para junto do rebanho, somos ovelhas perdidas e aceitamos passivamente o nosso fim. Mas Deus, não se esquece de nós em nenhum momento. Este é capaz de deixar todas para resgatar uma filha sua. Não importa as razões desta separação, os erros que comentemos, Nosso Bom Pastor olha tudo e perdoa tudo.
"E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor". (Mateus 9, 36).
O Bom Pastor não deixa perdida uma ovelha sua.
São Luís, 15/ 07/ 2010
Aline Xavier Bras

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Encontro-desencontro



Já cruzei tantas estradas em busca de Teu Caminho,

mas tuas pegadas se apagam de minha pobre razão;


Já esquadrinhei tantas pessoas em busca de Tua Face,
mas todos me devolvem rostos frios e indiferentes;


Já li tantas páginas à procura de Tua Palavra,
mas quase sempre topo com a tagarelice de palavras vazias;


Já dediquei tantos momentos a decifrar Teu Silêncio,
mas tropeço com um mutismo árido e impenetrável;


Já me dispus a abrir o coração à Tua Visita,
mas nele só descubro sentimentos turvos e desconhecidos;


Já bati tantas vezes à porta de Tua Casa,
mas só ouço o eco de meus próprios gemidos;


Já me torci e retorci nas sendas de Tua Verdade,
mas a cada esquina deparo com novas interrogações;


Já me atirei com sofreguidão à água viva de Tua Fonte,
mas a sede volta a ressecar meus lábios e minha alma;


Já tentei identificar o significado de Tua Vida,
mas o cotidiano consome minhas parcas energias;


Já tentei me colocar em órbita ao redor de Tua Luz,
mas as trevas dominam grande parte de meus dias;


Já tentei orientar meus passos com o brilho de Teu Olhar,
mas tenho de aprender a caminhar no escuro;


Já empreendi várias tentativas de desvendar Tua Vontade,
só me resta colocar-me confiante em Tuas Mãos.



Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
São Paulo, 10 de abril de 2010