domingo, 6 de fevereiro de 2011

Quando o sono não vem


Quando o sono não vem, nosso único companheiro a ser fazer presente é o pensamento.
Junto a ele faço uma viajem. Vou aos mais belos campos e escalo as mais altas montanhas; aprendo a voar e ao mesmo tempo a nadar; na escuridão da madrugada, posso velejar nas ondas violentas do alto mar; assim como Pedro, ando sobre as águas e até no céu posso chegar.
Quando o sono não vem, minha imaginação vai muito além do que as limitações do dia a dia nos permitem. Na ausência do sono eu não sou eu, eu sou o João quando diz “já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”; e também sou Santa Tereza: “Se eu tiver que morrer que seja de amor pela Igreja”. Não me conformando, ainda sou Maria, sacrário vivo ou sou São Tomás de Aquino. Na ausência do sono, eu não sou uma mera humana, posso ser algo mais, simplesmente posso ser uma Santa.
Quando o sono não vem, tem a doce presença do silêncio, com apenas uns ruídos e os sons dos grilos. A melodia do mistério natural de pequenas criaturas a se manifestar de forma meio oculta, entoando a mais bela orquestra natural da natureza.
Quando o sono não vem, é momento para se pensar, é momento para se sonhar e deixar realizar os desejos salutares que invadem nossas almas na calmaria do tempo que a madrugada faz pairar. É momento de auto lançar-se, desbravar os mistérios e lançar longe as redes puxando-as carregadas de alimentos para a alma.
Quando o sono não vem, podemos no frio da madrugada, no silêncio do ambiente e na paz aconchegante intensificar o liame entre homem e Deus. Não há intervenções; não há ninguém para interromper e não há preocupações que possam impedir um belo diálogo entre criatura e Criador; entre humano e Divino.
Quando o sono não vem, é Deus chamando para acolher o filho seu. É Deus olhando, sondando e cuidando. É Deus perscrutando o coração apaixonado de sua obra. É Deus entendendo o que se passa no coração apertado, que em lágrimas chora.
Quando o sono não vem, corremos ao encontro e somos arrastados pela força Mística que se faz presente. Brisa suave e o vento impetuoso batem em nossos rostos de um jeito doce e delicado. A chama queima e inflama o coração!
Com o sol despontando no céu, eis que o sono se faz presente e com um riso no rosto, fecho meus olhos e volto do além da terra e do céu!

São Luís, 07/ 01/ 2010
Aline Xavier Bras