domingo, 19 de dezembro de 2010

Sentimentos que me marcam


Nunca é tarde para recomeçar a caminhada, mesmo que há muito ela já tenha sido iniciada.


Uma onda de sentimentos tem marcado com tanta profundidade o interior de meu ser: a minha alma. Sentimentos esses que se confundem hora com tristeza hora com alegria de uma gratidão que jamais alcançará o valor que é devido. Um arsenal de sentimentos que preenche toda a minha vida de uma maneira que não existe justificativa, pois trata de uma presença que por muito não são percebidas apesar de todos saberem de sua existência.
Assim é que me encontro; falo da palavra encontro no seu sentido literal de ir ao encontro, deparar-se comigo mesma e com o Divino que sempre habitou em mim, fazendo-me de sacrário vivo.
Sentimentos que me marcam, encontros que jamais serão esquecidos nem que eu queira. Pensar que há muito tempo estive neste caminho e só agora pude perceber que ele era e é rico em preciosidades ocultas por uma visão antes limitada. Mas diante de tantas limitações, é preciso agarrar com garras de garça a oportunidade que é lançada para retornar ao início do caminho e percorrê-lo, notando em cada trecho, em cada curva e em cada planalto ou depressão a essência de um mistério, a grandeza de um pequeno detalhe e o valor de uma peça que nele estiver contido.
Hoje voltei ao início do caminho que foi traçado a mim. Voltei ao início para notar tudo o que antes não foi percebido, para colher tudo o que não foi colhido e para recuperar tudo o que foi perdido. Reinício esse caminho porque me ensinaram que tudo tem seu tempo de ser vivido e que nunca é tarde para recomeçar.
Assim, neste ponto de partida, darei o primeiro passo nesta estrada da vida. Tenho comigo algumas pessoas que me impulsionam a seguir, me concedem orientações para não turvar minha visão novamente com limitações. Pessoas que o Bom Pastor colocou para me acompanhar, pois sabe Ele que em minha fragilidade, tão facilmente posso me perder ou penetrar em uma curva que não faz parte do caminho que devo proceder.
Neste recomeço, cada passo é dotado de sentimentos que me marcam. Tornei-me sensível diante do Mistério Sobrenatural que vela por mim e que sempre esperou ansioso por este dia. Sentimentos que me marcam cada dia mais profundamente. É como se minha alma estivesse sendo marcada a ferro. Ao ser carimbada com tal instrumento, não sinto dor, porque há um zelo, um cuidado e uma proteção que não irá me fazer sentir a sensação de sofrimento, pelo contrário, só o sentirei se novamente tornar a fugir deste braseiro que inflama meu coração.
Sentimentos que me marcam ensinando-me a contemplar o mais Belo de todos, que me coloca em posição de prontidão para qualquer missão dada a mim. Sentimentos que me marcam ensinando-me a contemplar o Místico que se encontra diante do altar. Sentimentos que me marcam mostrando-me que criaturas imperfeitas como eu podem enfim encontrar a perfeição e se tornar sábia ao abraçar com toda voracidade a loucura da Cruz que também é a loucura do amor incondicional.
Sentimentos que me marcam... e como marcam eles minha alma e o meu ser, que me faz querer sentir e ser marcada mais ainda. Sentimentos que me marcam para eternamente serem recordados.
São Luís, 03/ 08/ 2010
Aline Xavier Bras

domingo, 28 de novembro de 2010

Em meio ao tudo que habita em mim



Não há como negar que há algo existente em meu ser, que me motiva a ir além do que meus próprios olhos podem ver; algo que me faz querer ser o que eu ainda não sou; que me impulsiona a prosseguir por caminhos certos, mesmo que eles inicialmente sejam tortos e sofridos.
Em meio a essas turbulências que em mim se faz presente, sei que o mais quero está em minha frente e ao mesmo tempo inserido mais dentro de mim do que eu mesma.
Uma força, uma presença mística e sobrenatural que só pode ser compreendida no silêncio da adoração e a força da oração. Uma oração que não há emissão de palavras, pois a mensagem percorre por um liame que só eu e o Divino compreendemos, e confesso que quase sempre não consigo decifrar esse código divinal. Então, mergulhada no mistério que me rodeia chego à conclusão de quero e desejo imensamente encontrar o maior e mais belo tesouro; tesouro este que não se constitui em matéria e sim em um céu, o Céu que está em mim. Mas muito sei que devo fazer para possuir este tesouro. Muito devo silenciar e escutar o que a mim bem no íntimo é pronunciado.
Ah...! Em meio ao Tudo que habita em mim quero adorar cada vez mais Este Deus tão próximo. E eu adoro Aquele que espera e anseia por mim. O meu Deus me dá uma total liberdade de contemplá-Lo! No altar, vendo-O crucificado, tenho a prova de que Este é presente no momento em que meu ser começa a se transfigurar. Uma emoção tão forte que me leva aos prantos por não conseguir conter essa onda de sentimentos variados que me faz culpada e inocentada; amada e odiada; merecedora e incrédula. O que Deus viu em mim? Por que Ele continua a amar-me, mesmo que eu não mereça e não faça por onde merecer? Tanto amor me é dado sem ao menos eu pedir, é tudo gratuito e sem interesse.
Mas meu coração é dividido, algo me faz temer entregar-me inteiramente a esse amor quem vem do Divinissímo Esposo de minh’alma. Outra força me prende a um mundo onde todos pouco conhecem a verdadeira essência do grande Rei. Não que eu conheça profundamente essa essência, se fosse o caso, não temeria a uma entrega total.
Em meio ao Tudo que habita em mim, quando e onde encontrarei a resposta para o quero de mim? Senhor:
Mostra-me os Teus caminhos, Senhor o que queres de mim? Dá-me o que me mandas e mandas o queiras de mim. Quero entrar em Tua casa, nos Teus braços descansar. Sentir os Teus carinhos e repousar o meu olhar em Teu olhar...”
São Luís, 30/ 07/2010
Aline Xavier Bras

domingo, 7 de novembro de 2010

Até quando

Até quando permaneceremos de braços cruzados? Até quando a Igreja será tratada apenas como um espaço físico? Até quando adotaremos dentro de nós uma fé sem ação? Até quando a maioria dos coordenadores, pregadores e evangelizadores manterão essa pose de falsos profetas? Falsos profetas porque o que eles dizem não é o que praticam e o que acreditam, falam por conveniência e por questão cultural.
Estou cansada do que venho vendo ultimamente. Revoltada por dentro em saber que não existe mais aquele Amor ao se pronunciar o nome de nosso Senhor. Cansada de ouvir pessoas falando palavras lindas e não agirem conforme dizem. Falar é fácil, mas colocar em prática aquilo que se proclama é que é a questão. Não é difícil, só basta querer.
Mas diante de tudo isso e muito mais, o que me deixa mais entristecida é ver que não se celebra mais o Santo Sacrifício; esse foi substituído a um momento de Refeição eucarística apenas.
Como é triste tudo isso. A nossa bela Igreja, casa de nosso Pai Celestial, nossa divinissíma esposa, o meu refúgio está se tornando em palco para chagar meu Senhor e meu Deus.
O que estão fazendo? Querendo implantar um ecumenismo sem discernimento para chagar no mais intimo o interior daquele que se deixou humilhar para nos salvar uma vez? O que querem que Ele faça agora? Será que ter-se deixado espancar foi pouco? Ter sido torturado, cuspido, chutado, imolado não foi o suficiente?
Como dói ter que dizer isso; como dói não poder fazer nada para mudar essa situação. Onde estamos errando?
Sinto saudade da época em que se rezava o Pai Nosso antes de entrar nas salas de aulas; sinto saudade dos grupos religiosos dentro da Igreja; sinto saudade de ver esses grupos cheios de pessoas desejando intensamente ter um liame direto com o nosso Senhor; sinto saudade de ver o Sacerdote realizando a homilia com paixão e consagrando a hóstia com lágrimas nos olhos, pois este não continha a emoção de ter ali bem próximo o Corpo de Cristo.
Meu Deus, até quando as pessoas em sua maioria vão se portar dessa maneira diante do Amor que não se acaba e nem se abala com tudo o que vem acontecendo?
Até quando...
São Luis, 25/ 07/ 2010
Aline Xavier Bras

sábado, 6 de novembro de 2010

É loucura da cruz



Dizem que é loucura sair nas ruas falando de um Jesus; dizem que é loucura falar da grandeza de um Senhor; dizem que é loucura seguir um Cristo nu; é loucura preencher “um vazio do tamanho de Deus”.
Mas nesse mundo onde o errado parece ser certo, não é loucura ir de encontro a uma vida mundana marcada pelo egoísmo, o individualismo, a vaidade e a escravidão em uma vida que proporciona uma falsa liberdade. Não é loucura ir deitar-se cedo na cama confortável esquecendo-se do irmão desabrigado que dorme ao relento por cima de caixas velhas; não é loucura acordar, fazer a oração da manhã com um banquete na mesa, enquanto o vizinho do lado não tem um pão seco para dá ao filho; não é loucura mediante a tais ações abrir a boca e dizer: eu sou um religioso!
Mas na incessante busca de preencher o vazio dentro de mim, na certeza de que Deus me ama e está amando-me, eu deixo o amor amar, e vivendo a ação desse verbo, digo que não é loucura da cruz e nem pode ser pelo simples fato de eu seguir não um Deus, mas sim O Deus, o Senhor e o Jesus, isso porque Ele é único.
Na vida, é assim, uns sabem reconhecer o quão dependentes somos deste Ser superior que ninguém jamais viu, mas em nosso íntimo já sentimos. Muitas vezes é difícil admitir que exista tal Verbo encarnado agindo em nosso favor, carregando-nos no colo quando tudo parece difícil e sem solução. Mas o fato é que não precisamos de provas para perceber que existe algo além de nossa compreensão limitada e humana; que há milhares de anos alguém foi capaz de amar o mundo de tal forma que entregou o seu próprio filho e que Este, sem pensar duas vezes ou levantar algum questionamento, morreu em uma cruz de braços abertos dizendo: “Pai, perdoa, pois eles não sabem o que fazem!”
A mim, na sede que tenho não cabe outra escolha a não ser viver a loucura da cruz. Se para os cegos do amor incondicional serei considerada louca por carregar no peito não uma, mas duas cruzes; louca por ir ao encontro do desabrigado e necessitados que nas ruas estendem as mãos implorando muitas vezes não por um trocado, mas por um pouco de compaixão e humanidade; louca por anunciar àqueles que convivem comigo a boa nova e em orações expressar a face do Divino que habita em mim; louca por sonhar em alcançar a santidade e não a prosperidade de um mundo capitalista, que seja assim. Serei uma louca que na religiosidade se iguala aos pequenos ou no mínimo vai ao encontro deste. Serei uma louca que reconhece o tamanho do sacrifício da cruz que se entrega a todos os momentos se fazendo bem pequeno somente para que eu possa alcançá-lo.
É loucura, loucura da cruz!
São Luis,05/ 11/ 2010
Aline Xavier Bras 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Somos ovelhas de Deus

E chegaram-se a ele todos os publicanos e pecadores para O ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso; E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. "Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” (Lucas 15, 1-7).


Ele sente falta...  Seu rebanho encontra-se incompleto porque está faltando aquela que é a mais importante. De feição doce e angelical, traços inocentes e expressão reluzente de uma alegria que contagia todos os que estão envolta. Seu coração permanece triste, a sua ausência dói muito. Ele olha em volta e imagina os saltos, a candura de um sorriso espontâneo de uma ovelha que conheceu a paz que reina em vales verdejantes. Sua ausência não é suportável, Ele deixa todos e sai em busca daquela que se perdeu.
Do outro lado, em meio à angústia, solidão, temor, fome, miséria, desesperanças... Sua alma em pleno desespero clama em silêncio ao lembrar o paraíso que viveu.
Abandonada por todos, ignorada e desprezada, esta, sem forças tenta, mas não consegue encontrar o caminho que a levará de volta para sua casa. A prisão de um mundo de “liberdade”, onde tudo era permitido, turva sua visão e tapa os seus ouvidos. Esta é prisioneira de uma vida não vivida, de um falso amor que ainda assim foi passageiro.
Duas almas: uma que salva e liberta, outra que precisa ser salva e libertada; resgatada para o mundo que perdeu.
O Pastor não se cansa, corre e olha em todos os cantos. Seu objetivo é um só: encontrar sua jóia rara. Enfrenta guerras em territórios que não são os seus, ultrapassa seus limites, mas não desiste. Se tiver que ser imolado, sem pensar duas vezes ele entrega sua vida por aquela que jaz em campos desconhecidos.
Ele procura e a encontra..., Ele a encontrou e suas feições notou. Seu coração exulta ao mesmo tempo de alegria e tristeza. O que fizeram com minha ovelha? Onde estar o brilho em seu olhar? O sorriso de inocência que contagiava suas irmãs? A vida em sua alma? Por que tanta solidão e chagas em seu coração? O que fizeram com a filha minha? Seu olhar agora é vago, seu semblante sofrido e enrijecido.
A filha, em meio às lágrimas tenta se levantar e correr para os braços daquele que resplandece a esperança que lhe dará a vida. Luta e tenta retirar de suas dores forças para agarrar o Pastor que irá lhe restaurar. Sua alma clama: vem, vem até mim! Olha pra mim e me tira daqui. Não suporto mais; tenho medo, muito medo. Vem me devolve a alegria de viver, ou ao menos do Teu lado me deixa permanecer, mas não me deixa aqui.
O encontro, a paixão e a emoção presente em dois corações chagados pela ausência e pela solidão.
O Pastor, no ato de compaixão e emoção, pega com toda a delicadeza a pobre ovelha que não tem forças nem para agradecer, mas sabe reconhecer que sobre os ombros deste estará segura e que nunca mais irá se desprender.
Hoje muito pensei neste símbolo cristão cujo significado é inundado de beleza, aliás, quanta exuberância contida nesta parábola, que retrata a total paixão de Jesus por cada um de nós!
Mas, por que a ovelha?
A ovelha é um daqueles animais que não sabe voltar para seu rebanho caso se separe dele. Bem diferente do cachorro ou do gato que sempre encontram o caminho de volta para casa, a ovelha permanece perdida e desnorteada. Este frágil animal, de feição doce e angelical é dependente de um pastor que a leve para o rumo certo.
E o que nós somos quando nos separamos do Pai Celestial? Não sabemos voltar para junto do rebanho, somos ovelhas perdidas e aceitamos passivamente o nosso fim. Mas Deus, não se esquece de nós em nenhum momento. Este é capaz de deixar todas para resgatar uma filha sua. Não importa as razões desta separação, os erros que comentemos, Nosso Bom Pastor olha tudo e perdoa tudo.
"E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor". (Mateus 9, 36).
O Bom Pastor não deixa perdida uma ovelha sua.
São Luís, 15/ 07/ 2010
Aline Xavier Bras

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Encontro-desencontro



Já cruzei tantas estradas em busca de Teu Caminho,

mas tuas pegadas se apagam de minha pobre razão;


Já esquadrinhei tantas pessoas em busca de Tua Face,
mas todos me devolvem rostos frios e indiferentes;


Já li tantas páginas à procura de Tua Palavra,
mas quase sempre topo com a tagarelice de palavras vazias;


Já dediquei tantos momentos a decifrar Teu Silêncio,
mas tropeço com um mutismo árido e impenetrável;


Já me dispus a abrir o coração à Tua Visita,
mas nele só descubro sentimentos turvos e desconhecidos;


Já bati tantas vezes à porta de Tua Casa,
mas só ouço o eco de meus próprios gemidos;


Já me torci e retorci nas sendas de Tua Verdade,
mas a cada esquina deparo com novas interrogações;


Já me atirei com sofreguidão à água viva de Tua Fonte,
mas a sede volta a ressecar meus lábios e minha alma;


Já tentei identificar o significado de Tua Vida,
mas o cotidiano consome minhas parcas energias;


Já tentei me colocar em órbita ao redor de Tua Luz,
mas as trevas dominam grande parte de meus dias;


Já tentei orientar meus passos com o brilho de Teu Olhar,
mas tenho de aprender a caminhar no escuro;


Já empreendi várias tentativas de desvendar Tua Vontade,
só me resta colocar-me confiante em Tuas Mãos.



Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
São Paulo, 10 de abril de 2010

domingo, 31 de outubro de 2010

Hoje quero chorar

Quem disse que chorar é exprimir tristeza? Quem disse que chorar é uma expressão de dor? Quem disse? Por acaso foi o Aurélio?
Mas o Aurélio também disse que o choro é um conjunto instrumental com flauta, violão e cavaquinho; e para intensificar a harmonia inseriram o bandolim, a clarinete e o pandeiro. Festa para quem é faceiro!
Choro, chorinho e chorão! Choro grande, choro pequeno, choro de contemplação.
Mas isso tudo não passa de uma introdução para dizer que hoje quero chorar. Quero chorar de todas as formas: de tristeza e de alegria, de admiração ou decepção, chorar com as verdades ou com as ilusões; isso tudo porque o mundo é contradição e eu tenho minhas razões.
Razões que me fazem de fato chorar mesmo que eu não queira, mas às vezes é impossível evitar que lágrimas não caiam de meu olhar. Às vezes eu as prendo e fico com o nó na garganta para que ninguém possa notar.
Queria ser como o palhaço, que pinta seu rosto e sai para animar, se estiver triste, ninguém conseguirá enxergar. A sua máscara esconde a mágoa que acaba por ser substituída pela alegria dos que riem da graça do palhaço que antes era triste.
Hoje eu quero chorar e derramar minhas lágrimas. Quero chorar as dores do doce e amargo mundo.
Também quero chorar ao ouvir a melodia que é entoada todos os dias. Nessa melodia as notas que compõem os acordes são emitidas no sol, lá, si dos bem- ti- vis e no cricri dos grilos. A mãe natureza me trás alegria por que ela é feita por choros que são melodias. É o buá da criança quando sai do ventre de sua mãe e o buá da mãe que deu a vida. É o chuá das águas que descem do céu e o chuá das águas que correm nos rios. É o barulho do vento batendo nas folhagens das árvores e o toctoc das marteladas do carpinteiro a moldar a cama no qual irei repousar.
O dia que era claro se fez noite que é escura. Mas não quero viver a escuridão do fim do dia, não quero chorar “por ter perdido o sol, as lágrimas me impedirão de ver as estrelas”.
Ao chorar tudo o que hoje quis, minha alma encontra-se limpa, leve e solta. E essa leveza por ter a alma livre permite que eu contemple com exatidão o perfil da noite que não é escura, esta é iluminada pelo brilho da lua e das estrelas.
Um jogo de luz que ilumina aqui e ali cada músico que toca a sinfonia da mãe terra, obra do Divino.
São Luis, 08/ 07/ 2010
Aline Xavier  Bras

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vivendo e aprendendo

"A vida é maravilhosa se não se tem medo dela." (Charles Chaplin)
Ensinaram-me a não ter mais medo, que a vida tem valor e que este não é um filme que deve ser apenas assistido, mas também atuado. Neste filme, a atriz principal sou eu.
Hoje, me sinto como a muito não me sentia, na verdade, nunca me senti assim. Pela primeira vez me sinto disposta a fazer coisas e viver a vida que eu mesma e auxílio da graça Divina preparamos. Agora não penso é por ele, penso e me sinto melhor afirmando: é por nós (eu, você e Deus).
Deus me concedeu um dom de acolher e a fazer coisas pelo meu próximo, principalmente quando se trata de minha família e de meus amigos. Mas percebi que usava erroneamente este dom, e que muitas vezes maltratei minha alma e meu Criador. Então, de que adianta ter tal ferramenta se eu ainda não aprendi a usá-la? Uma hora o sistema pifa e serei apenas uma peça inútil e sem valor abandonada em um canto. Aqueles que foram beneficiados por tal ferramenta não virão em busca dela para reformar e fazê-la nova. Aprendi isso, quando no momento em que mais precisei não encontrei uma mãozinha daquele que tinha levado meus pés e meus braços quando eu só oferecia uma mão.
A vida é dura, mas comparado a quê?”
Eu comparo a dureza da vida quando me deparo com pessoas ingratas, que não reconhecem o tamanho do Amor Sacramentado e o valor das criaturas que atuam como anjos aqui na Terra. Percebo que é neste momento que devo agir como serva; noto que não é um abandonado que precisa das palavras de vida e sim esses “cegos” do Amor perfeito.
Mas não são todos os humanos desconhecedores. Felizmente há pessoas de fato humanas, pessoas que ouvem o chamado do Eterno e pessoas que ao serem resgatas por semelhantes seu, ficam comovidos e se sentem tocados a trabalhar para obra do Pai como forma de demonstrar a eterna gratidão.
Longe de mim querer ser santa ou anjo, mas faço o que está em meu alcance para proporcionar um sorriso no rosto daqueles que há muito esqueceram o que é esticar os lábios e mostrar os dentes em um movimento sincronizado. Não precisa emitir um som, apenas gerar no olhar um brilho de esperança.
"Para Adorar, tive que aprender a amar"
Quando aprendi a não ter medo, acabei por descobrir em mim mesma a ausência de um sorriso, de uma alegria e de uma esperança no olhar. Que muitas vezes ou quase sempre me diminuir e me fiz inferiorizada, não dei valor a mim mesma. Descobrir que eu proporcionei ao próximo aquilo que não tinha dentro de mim, e que este surgia rapidamente, de forma passageira ao “fazer o bem sem saber a quem”. Então pergunto a mim mesma: é isso que Deus quer de mim? É isso que quero para mim?
Quero sorrir verdadeiramente, ter a felicidade plena que é marcada sim por algumas dores, mas como diz um amigo: “é a dor mais doce do mundo, pois brota do amor sentido, e cada um de nós apenas passaria pela vida sem viver se não a sentíssemos.”
As dores, as cruzes, as dificuldades e os obstáculos estão nos caminhos para serem superados. Se eu esbarrar neles, não devo permanecer no chão, pelo contrário, tenho e devo lembrar que mais a frente existe outro obstáculo a ser superado e caída no chão jamais chegarei à linha de chegada.
Agora, ao perceber a bela obra que sou eu, que tenho uma natureza digna de uma criatura de Deus e que este habita em mim; digo e afirmo que irei mudar e nunca mais depreciar-me.
Então, por meio destas palavras que não expressam completamente o que sinto e penso é que torno a afirmar um compromisso que ontem eu assumi com uma das pessoas de minha vida: se é para mim, você e ele enxergar que Deus nos ama como somos, que nós somos as pessoas mais bonitas do mundo, que também somos instrumentos de Deus, que nós somos belos pelo o que fazemos e seguimos é que aceito sim entrar nessa onda de fazer-me nova e renovada e de passar este aprendizado àqueles que esbarrarem em meu caminho.
São Luís, 27/ 06/ 2010
Aline Xavier Bras

Momentos

Há momentos que só queremos colocar para fora o que não temos dentro da gente...
Há momentos que só queremos adquirir aquilo que achamos que não possuímos...
Há momentos que só queremos ter um momento.
Foi assim que amanheci nesta manhã: desejando ardentemente ter um momento. Como ele seria não sei dizer, só sei que gostaria de tê-lo.
Então, desejando encontrá-lo, procuro sair de casa um pouco mais cedo, mas acabo por sair mais tarde do que previa, na verdade, estou um pouco atrasada.
Apesar de tarde, o mundo aqui fora parece está meio vazio. O ônibus_ geralmente cheio_ possui cadeiras vagas, o terminal com poucas pessoas e a universidade quase deserta.
Sozinha em sala de aula começo a rabiscar em meu caderno este texto, no qual tento explicitar o imenso desejo de ter um momento.
Um barulho... Escuto em meio ao silêncio uma canção, mas não é uma canção cantada por homens e sim entoada por Deus.
Olho pela janela e vejo que chove, ficando a cada minuto mais forte. As águas da chuva batendo nas folhagens das árvores acabam por emitir uma melodia triste e melancólica. Deus chora as dores do mundo.
Desejo um momento em que eu me sinta livre de tudo e de todos que me prendem a este mundo; desejo um momento em que eu esteja presa somente ao Tudo, meu Rei e Senhor.
É este momento que procuro e não encontro. Geralmente eu o sinto quando me coloco a adorá-Lo, quando ali em meio ao ostensório o vejo. Mas já faz tanto tempo que não vou à capela vê-Lo exposto que agora só me cabe o desejo.
Momentos, apenas o momento... Lembro do Eterno. Alguém escreveu sobre ele baseado em uma canção: “O tempo esconde o que é eterno”. Lembro-me de uma outra canção que também fala do eterno: Abraço Eterno.
É isso! O abraço eterno é o que procuro e não encontro; Ele está em minha frente e não O vejo; Ele me chama pelo nome, mas não O escuto. Ele me quer, mas não me entrego verdadeiramente apesar de tanto desejar.
Desta forma, almejando por este momento, trago uma frase que expressa o que sinto dentro de mim:
“Amor tão grande, amor tão forte, amor suave, amor sem fim”.
Mesmo com tantas dores eu amo. Amo o Eterno e amo um alguém. Alguém, eu o amo sim. Mas o amor tudo entende, tudo compreende e tudo suporta por mais sofrido que seja.
Agora devo parar, a aula vai começar e hoje quero ficar até terminar o horário. Mas só o meu corpo vai permanecer aqui; minha mente voa longe em busca de novos horizontes cantando a canção...
“... Que a própria morte transforma em vida, Abraço eterno de Deus em mim
Nem as torrentes das grandes águas conseguirão apagar este amor
Pois suas chamas são fogo ardente, mais do que a morte é tão forte esse amor.
De abraço esmagante, de ausência torturante, de noite e luz é feito esse amor”.
São  Luís, 21/ 06/ 2010
Aline Xavier Bras

Jóia rara



Quanta emoção, alegria, risos, gargalhas e conversas mais do que animadas. Discussões aqui e ali, mas super natural dentro de um ramo social. Um convite, uma presença, um beijo e um abraço apertado. Somos e seremos eternamente responsáveis.
Não há memórias e lembranças em que cada um deles não estejam presentes. Em todos os dias, foram eles que me fizeram rir e chorar. Quantas jóias raras, raríssimas me são pertencentes!
No mundo, quem é aquele que não tem um amigo, a mais bela forma de expressão do Divino? Sim, expressão, pois as amizades são as verdadeiras faces de Deus em mim, em ti e em vós.
Tanto já foi dito pra tentar definir o que é um amigo. São eles anjos ou nossa alma gêmea? Será que são eles os portadores da asa que irá fazer par com a minha para juntos alçarmos vôo e partir de encontro à liberdade? Mas a liberdade já é alcançada quando reunidos estamos; não há limites apenas um forte êxtase dentro de cada um ao manifestar todas as formas de contentamentos que em palavras não podem ser ditas.
Amigo, amigos quem os descobriu encontrou de fato um tesouro, o mais belo e raro tesouro.
É bem verdade o que as canções dizem:
“Não é preciso mais adormecer para sonhar com um anjo descendo do céu, basta você perceber que eu sou mais que um amigo fiel. Sou aquele que trás a alegria de Deus e a entrega direto em seu coração e com você vou sorrir e chorar, lado a lado vamos caminhar... Nós somos mais que amigos, somos anjos que o Senhor enviou pra você...”
“Amigos pra sempre, bons amigos que nasceram pela fé. Amigos pra sempre, para sempre amigos sim, se Deus quiser.”
E como Deus quer e deseja que nós, criaturas sua tenhamos amigos. Amigos que nos acolhem nos momentos de queda e de fraquezas; amigos que são refúgios quando temos medo; amigos que dão opiniões nos momentos de indecisões; amigos que são mais que amigos; que tem pré- disposição para qualquer situação.
“Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo”.
E essa sede é bem real. Como humanos, temos a necessidade de criar laços que não seja os familiares, tentar encontrar um alguém, ou melhor, um amigo que nos compreenda.
Como é importante, Deus nos fez portadores do grande tesouro, cuja pedra rara se chama amigo. De tamanho valor, essa preciosidade faz com que tenhamos responsabilidades de zelar e cuidar. Mas esse tesouro só existirá se nós sairmos pelo mundo para amigar, colocar em prática esta ação.
No caminho, enterrado em algum lugar, encontramos amigos de todas as formas, inclusive amigos que não são tão amigos, são parecidos, mas com o tempo notaremos que era só semelhança.
A jóia rara amizade possui características únicas, que o tempo nos ensinar a zelar, pois elas são frágeis e em qualquer descuido podem se acabar. Essa jóia rara se fortalece à medida que somos fiéis a ela. O tempo que ela irá durar vai depender de nosso cuidar. O amigo não suporta a traição, a mentira e a ausência. Sua sobrevivência depende da nossa fidelidade, do desejo salutar de cada parte de uma amizade.
Assim, faltam palavras para tentar definir o que é um amigo e por que ele se faz tão importante. A capacidade de nos aproximarmos um dos outros apenas para trocar afetividades nos faz humanos de tal forma que até chegamos a nos perguntar como. Uma força superior a nós, que permite imitarmos de certa maneira o Criador de todas as coisas. Digo imitar, porque a parti do momento que encontramos um amigo aprendemos a nos doar. Essa doação é total, nos faz dá a vida para salvar o grande amigo, fazer aquilo que Jesus fez. O Nosso grande Mestre deu sua vida para nos salvar; Ele fez isso porque era e é nosso amigo. Foi por amor aos pequeninos que sua vida a nós entregou.
Amizade é essa forma de amar o outro com seus defeitos e falhas. Amar alguém a ponto de nos motivar a transpassar barreiras para manter essa relação amistosa.
Encerro este pensamento com outro pensamento que define muito bem o que é amizade, o que é ter amigo.
“O amor é essa capacidade de ver o outro de forma diferente. No meio de tanta gente, alguém se torna especial para você e você se aproxima. O amor é essa capacidade de retirar alguém da multidão, tirá-lo do lugar comum para um lugar dedicado, especial. Alguém descobriu uma sacralidade em você. Amar é você começar a descobrir que, numa multidão, alguém não é multidão. Quando alguém se aproximou de você foi porque você gerou um encanto nessa pessoa. O outro se sentiu melhor quando se aproximou de você. A beleza da totalidade que você tem faz o outro melhor.”
São Luis, 18/ 07/ 2010
Aline Xavier Bras

... vazio....


Luz seja luz para aqueles que ainda precisam encontrar Jesus...”
Esta frase não sai da minha cabeça, ela me perturba. Já troquei a canção, já desliguei o som e tentei pensar em algo, mas ela permanece insistente em minha mente.
Procuro alguém que cuida de mim, mas ele não está pra me ajudar... Procuro orar, mas não consigo. A minha mente estar desnorteada, meu eu interior em conflito, tudo se faz vazio, nem há mais lágrimas, pois as utilizei de uma só vez. Meus olhos ardem por ter passado a metade de um dia em prantos e uma noite não dormida, na verdade tem várias noites que não fecho os olhos.
Estar quente, agora preciso tomar outro banho para esfriar o calor escaldante. Na verdade, eu quero tirar de mim tudo que me faz triste e todos os pensamentos deprimentes... Não passa, e nem vai passar, o calor que estou sentindo não é um calor físico, é mental.
Sinto-me vazia... só queria escrever algo bonito, alegre e animador, mas eu não consigo pelo fato de eu não viver a alegria e não sentir a felicidade verdadeira. Tenho tanto para fazer, mas não o faço porque não consigo me concentrar, as tarefas se acumulam e eu nada posso fazer para evitar. Tenho que tirar essa frase que me perturba da mente.
O que há comigo? Não sou eu..., minha cabeça estar doendo intensamente, meu corpo esmorecido e minha boca amarga. Tem algo doce, mas não quero comer, não sinto fome e nem sinto sede. Só o vazio em mim se faz presente.
Sinto dor, muita dor!
O tempo não passa, o relógio funciona perfeitamente, mas tudo é uma eternidade. Olhando o que em minha volta existe, marco cada passo do ponteiro, então, como que propositadamente uma nova canção começa a tocar:
“... e me faz novo, todo novo
Renovado em Jesus...”
É isso, é isso: ser luz para os que precisam encontrar Jesus. Mas como farei isso, se eu mesma ainda não O encontrei? Se vivo dentro de mim algumas trevas?
Então, a nova mensagem a ser lançada me diz que para ser Luz, tenho que renovar-me; renovada em Jesus conseguirei ser a luz que todos esperam que eu seja.
São Luis, 20/ 06/ 2010
Aline Xavier Bras

Roubaram de mim...




Nesta tarde sagrada
Roubaram de mim a pouca felicidade que sentia...
Roubaram de mim a pouca força que em mim prevalecia...
Roubaram de mim sem por que e nem pra quê
Apenas roubaram de mim...
E me fizeram assim:
Fraca quando estava forte
Triste quando estava alegre
Vazia quando me sentia cheia de euforia
Apagada quando me sentia iluminada
Sozinha quando me sentia acompanhada
Roubaram de mim sem por que e nem pra quê
Apenas roubaram de mim...
E me fizeram assim...
Neste dia que chega ao fim.
Eu quero ir embora, pra não mais sofrer
Pra não sentir dor e não me esconder
Eu quero ir embora, pra longe de todos
E ficar perto do Tudo
Quero ir embora porque roubaram de mim
O prazer da alegria que ganhei neste dia
Quero ir embora, ir pra bem longe...
Mas tenho que ficar e suportar
O que em minha volta há.
Hoje, na tarde que ainda não se fez noite
É preciso me trancar e voltar a pensar...
Apesar de terem roubado de mim o que existia
Eu quero recomeçar e tornar a cantar
A canção que vai me confortar:
Eu sei que é difícil esperar
Mas Deus tem um tempo pra agir e pra curar
Só é preciso confiar
Se a cruz lhe pesa
Não é pra se entregar
Mas para se aprender a amar
Como alguém que não desiste.
A dor faz parte do cultivo desta fé
E só quem sabe o que se quer
Quem luta para conseguir ser feliz.
Não desista do amor, não desista de amar
Não se entregue a dor porque ela um dia vai passar
Se a cruz lhe pesou e quer se entregar 
Tal como Cireneu, Cristo vai lhe ajudar.”
São Luís, 19/ 06/ 2010
Aline Xavier Bras

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

No fim do dia


Fim de tarde, tempo nublado, o vento que batia leve meu rosto amenizava um pouco o calor que se fazia neste dia concedido pela graça Divina.
No momento, livre de todas as obrigações diárias, só quero poder seguir meu caminho de volta para casa, onde poderei enfim esquecer todas as tarefas que me recaem para entrar em contato com o que mais almejo: uma conversa centrada no autor de minha vida.
Então num ônibus cheio de pessoas que em sua maioria encontram-se sem ânimos, cansadas e estressadas depois de uma longa jornada de trabalho, fui uma das felizardas a seguir viagem sentada, mas não por muito tempo, pois mais a frente cederia o lugar para uma senhora que estava acompanhada de seu pequeno filho, este infelizmente negou-se a sentar em meu colo. A pé prossigo o percurso para casa. Perdidas em meus pensamentos começo a contemplar o vidro da janela que se fazia molhado, pois neste momento começava a chover. Analisando as gotas, me vejo tentada a filosofar um pouco e nisso chego a uma pequena conclusão:
Somos como as gotas que escorrem pelo vidro. Algumas permanecem paradas, sem ânimos para escorrer e encontrar a imensidão em meio a tantas outras gotas que já haviam escorrido e se aglomerado; outras gotas desciam tão rapidamente em linhas retas que ao chegar ao fim, com impacto de sua velocidade eram lanças ao chão molhado e sujo sem ter como voltar atrás; e a ultima gota analisada, aquela que teve paciência e sabedoria, que escorria devagar, às vezes parava mais encontrava forças para descer, essas gotas faziam curvas mais estavam prosseguindo apesar das dificuldades em meios a tantas outras gotas que paradas tentavam impedir a caminhada das que ainda persistiam em encontrar a imensidão.
Tenho que descer, ainda tenho meia hora de caminhada, meia hora para dá inicio a novos pensamentos. Para minha felicidade, já não chove, na verdade, nem chegou a chover nesta região, pois o chão encontra-se seco. O que me permite refletir o seguinte: neste mundo cada lugar tem suas particularidades. Eu sou eu, você é você e assim se faz e assim se vive. Enquanto aqui é noite, no Japão é dia; enquanto ali chove, aqui se faz quente...
Estar escuro, o dia chegou ao fim para dá inicio ao novo amanhecer que em breve chegará para novamente vivermos e sobrevivermos. Este percurso que faço a pé é meio deserto, além de ruas, postos e outros estabelecimentos não há nada que prenda minha atenção, mas gosto de realizá-lo, me faz pensar e refletir sobre o que poderei eu fazer. Geralmente costumo conversar com meu Deus que sempre estar disposto a ouvir.
Então, lembrado-me do vidro molhado: Há momentos que não dá para não pensar em desistir, que o peso é grande demais para agüentar e que a dor é sofrida para suportar. Nessas horas, as fraquezas tomam conta e as lágrimas já se negam a ficar guardadas.
O mundo! Este pequeno grande mundo insiste em magoar. Olho para os lados: onde ficar? Para onde ir? E se eu desistir parar de sofrer e for como as gotas que não escorriam e que se limitaram a ficar presas dentro de si? Gotas essas que podem ser comparadas com as pessoas que já não se importam, apenas vivem a vida e o mundo olhando uns prosseguirem tão rapidamente sem viver e aproveitar o que de mais belo há em nosso meio; e outros que bem vivem na graça e contemplação de uma vida de dedicação, união e entregas de um mundo no qual há salvação.  Existe algo melhor e maior que me faz ter a ciência de que se eu for contra o que há em mim, não serei eu. Serei vazia e sem objetivos. Estarei vivendo uma farsa preenchida de “felicidades” passageiras. Não quero ilusão em minha vida, quero ser preenchida com uma força e uma presença maior. Essa força e essa presença eu só encontro quando dobro os meus joelhos e clamo pelo Rei e Senhor nosso. Digo nosso porque Ele não é só meu é de todos que O buscam.
Estou em casa para novamente partir. O cansaço físico não torna-se obstáculo para eu pegar meu teclado e descer a longa ladeira, passar por vielas escuras e pessoas mau encaradas.
A porta destrancada como sempre, me permite entrar com facilidades dentro da residência em que moro. Estranho, mas foi impossível não lembrar que tempos atrás, um gatinho me esperava na porta. Não sei como, mas era sagrada a presença dele no pé do portão aguardando minha chegada. Em silêncio, dou o beijo na pequena criança que janta, sem mais delongas, entro em meu quarto, retiro meu sapato e tomo meu banho, tirando de mim todos os resíduos de um mundo lá fora.
Pego meu terço, digo a minha mãe que estou saindo apesar de não obter resposta alguma, mas sei o que se passa em sua mente: mal chegou e já estar saindo. Olho para dentro digo mentalmente: fiquem com Deus que eu vou com Ele.
Mas tarde estarei de volta, não para descansar, pois meu corpo apesar de pedir uma cama não pode relaxar, minha mente se nega a parar de funcionar, ela é perseguida pelas obrigações que devo cumprir. Mas sei como já foi me dito que tenho que ser humana, que tenho limitações. Na verdade, já estou refletindo o cansaço físico. Olheiras profundas, olhar meio morto..., mas é essa atividade constante que me faz sentir viva e útil.
Prometo a mim mesma que hoje descansarei ou tentarei descansar, não por mim, mas por meu corpo, pois sei que se não o fizer, em breve não poderei contemplar outro amanhecer.
 No fim do dia... Inicio de outro que vai chegar.
São  Luis, 17/ 06/ 2010
Aline Xavier Bras