Por  vezes, há no espírito humano certa atração por coisas banais. Isso  porque a realidade criada por Deus é tão excelente, que nossos olhos não  se interessariam por certas coisas se não fosse esse atrativo.
  Nos Evangelhos, as parábolas de Nosso Senhor Jesus Cristo — cada uma  mais magnífica do que a outra, a tal ponto que qualquer forma de  comparação em literatura não é senão pó e cinza — são apresentadas com  base em casinhos da vida quotidiana.
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  Um exemplo. Sobre os lírios do campo, narra o Evangelho: “Olhai os  lírios do campo, como crescem: não trabalham nem fiam. Contudo digo-vos  que nem Salomão em sua maior glória jamais se vestiu como um deles. Se,  pois, Deus veste assim uma erva do campo, que hoje existe e amanhã é  lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé!” (Mt 6, 28-29).
  Na Palestina daqueles tempos não havia fábricas de tecido. Todos se  vestiam com tecidos que as mulheres fiavam. Nesta parábola, Nosso Senhor  compara os lírios do campo com o esplendor de Salomão, rei famoso por  sua sabedoria, conhecido no mundo inteiro. Entretanto, nem Salomão em  toda sua glória se vestiu com tanta beleza como os lírios.
  O lírio do campo ostenta sua beleza. A glória de Salomão alcançou sua  celebridade. Nosso Senhor aproxima esses dois elementos, mas ao  aproximá-los Ele os transforma em raios de sol.
  Poderíamos analisar os pormenores das numerosas parábolas dos  Evangelhos. O que se nota? Estão cobertas pelo pó da banalidade.  Entretanto, Nosso Senhor tira maravilhas da banalidade. Ele deita seu  dedo nesse pó, mexe e sai poeira de ouro! Evidentemente, isso se deve ao  dedo divino, que tocou numa coisa comum e a transformou em ouro.
  Com isso, a sabedoria divina nos dá uma lição: se começarmos a prestar  atenção na realidade criada, chegaremos a considerações em que o nosso  espírito se elevará a um ponto tal que não encontrará palavras para  exprimi-las adequadamente.
  Isso me sugere uma palavra muito bonita, quase não utilizada hoje em  dia: INEFÁVEL. É uma linda palavra, de natureza tal que corresponde a  uma idéia, a uma verdade que o espírito humano conhece, mas que não  encontra palavras suficientes para exprimir. É indizível.
  É belo que o espírito humano conceba algo e encontre uma palavra  apropriada para exprimi-lo. Entretanto, é também belo que conceba algo e  não encontre palavras adequadas para significá-lo.
  São lindos princípios que nos sugerem as parábolas de nosso Divino Salvador!
Plinio Côrrea de Oliveira 
 
 
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