sábado, 10 de dezembro de 2011

Anjos na rua

Inicio este texto relatando algo que  vivi recentemente.
Certa vez,  estava eu seguindo meu caminho para a universidade. Durante todo o percurso ia rezando o santo terço, contemplando cada mistério, desejando vivê-lo imensamente com a minha alma para tentar chegar o mais perto possível da perfeição de conversar com Deus. Além de viver os mistérios do terço, uma ferida doía dentro de mim quando em cada esquina, olhava nas calçadas um filho da pobreza, vítima da ganância política, do egoísmo social e da realidade de falsos cristãos que freqüentam a igreja e quase nada fazem em prol dos pequeninos.

Anjos, que como diz a canção, já não podem sonhar e nem voar, porque se encontram presos às normas de uma grande maioria que como cegos, saem às ruas como se nada estivesse acontecendo. Situação que ora e outra, me deixa completamente abalada e atordoada por não fazer nada ou não poder tomar alguma atitude em relação a essa triste situação. Mas, eu fui incomodada, e nesta manhã, sei que Deus traçou toda a minha rotatória para que eu fosse ousada, para que eu me superasse e fizesse algo, e fiz.
Chegando ao terminal, na fila esperando ônibus que me levaria à UFMA, eis que meu olhar se desvia para aquela pessoa que será lembrada para o resto de minha vida. Pequenino, indefeso e com um olhar triste de quem observa algo além de qualquer olhar humano. Seus olhinhos brilhavam à medida que pessoas se deslocava indo e vindo de todos lados das plataformas. Aquela criatura indefesa me incomodava e fazia doer minha alma. Será que ele está com fome? Será que ele deseja um copo de suco e quem sabe um doce? Onde está o brinquedo dessa criança? Onde está o sorriso do amanhecer? Onde estão seus pais...? Perguntas e mais perguntas se formando em minha mente, e tudo isso para que eu saísse do lugar e tomasse uma atitude.
Eu saí da fila, e de repente os olhares de muitos desconhecidos se voltaram para mim quando me aproximei daquele menino que tentava fugir de mim.
“Calma, eu não irei te ferir. Você já tomou café? Tá com fome, eu compro um lanche pra você.” Consegui fazer com que a criança de apenas onze anos fosse à lanchonete. Recebidos com humilhação, Marquinhos parecia está feliz com aquele pequeno pão. Foi um dia especial.
Marcos passou toda a manhã comigo. Fomos à universidade, demos uma volta pelo centro da cidade e em seguida, o deixei na Fraternidade O Caminho, que com muito prazer, acolheu em sua casa o pequenino que estava tendo sua vida transformada. Firmei um compromisso de educá-lo, de me tornar a mãe dele. Lembro que quando eu disse isso, entregando e colocando em seu pescoço um crucifixo, Marquinhos me fez chorar dizendo: “tia, eu nunca irei te esquecer e nunca irei tirar esse cordão do pescoço.”
Me senti feliz, muito feliz e narro este pequeno acontecimento para dizer que podemos mudar a realidade de muitos se quisermos. Não precisa ser para sempre, mais um dia de felicidade plena para um desses pequeninos que foram esquecidos pelos seus semelhantes é de um bem imenso, é do agrado do Pai. Os filhos e filhas da pobreza são os prediletos aos olhos do Pai. Eu pergunto:  você, no seu ser cristão, o que tem feito de bom para a sociedade? Ir à Igreja é o suficiente? Participar da santa missa ou grupos e ministérios são o bastante? A fé sem ação de nada vale. O Senhor vem nos dizer que devemos anunciar o reino de Deus ao próximo, ( Mateus 10, 7). Mas quem é o próximo? Afirmo com plena convicção que este próximo citado por Deus não é somente aqueles que estão em uma caminhada, mas principalmente os que estão sedentos e necessitados de uma palavra de reavivamento do espírito e do seu próprio ser humano. É fácil anunciarmos a Palavra de Deus para aqueles que se encontra em nosso meio, mas, onde está nossa coragem e ousadia para falar que existe um Deus que nos ama tanto a ponto de entregar sua própria vida para nos salvar? Como convencer uma pessoa  no mundo, que está exposto à fome, miséria e violência de que Deus existe e mesmo diante de todo o sofrer, esse mesmo Deus se faz presente, mesmo que o mundo diga o contrário? “Eu vim para as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mateus 15, 24)
Devo enfocar bem  o EU VIM PARA AS OVELHAS PERDIDAS, pois é chegado o momento de assumirmos nosso dever de ser servo. São muitos necessitados, são muitos desabrigados, são muitos que sofrem a ausência de amor. É chegado o momento de vivermos intensamente o mandamento que Deus nos deixou: amar o próximo como a mim mesmo. Não podemos mais permanecer de braços cruzados, enquanto uma parcela da população morre de fome e sede. Sejamos solidários, sejamos humanos e sejamos cristãos.
Foi em uma cruz que o Senhor morreu, antes de ser pregado no madeiro, Este foi sujeito a julgamento seguido de chibatadas que cortava seu corpo e que a distância se ouvia o grito da parte humana de Jesus, um grito de dor correspondente ao peso de todos os nossos pecados. Tanta  brutalidade, um caminho a ser percorrido por um longo trajeto no qual, refletido nos diz  hoje  por meio da  canção...
“Andando pelas ruas eu vejo algo mais do que arranha céu. É a fome e a miséria dos verdadeiros filhos de Deus...”
  São Luís, 09/12/ 2011
Aline Xavier Bras

Um comentário:

  1. nossa!! texto lindo e bela ação a sua. as vezes passando pelas ruas tenho a mesma sensação que tu tiveste, mas até agora não tive tal ousadia (infelizmente) depois desse relato sinto-me diferente e espero que eu tenha coragem e forças o suficiente pra, como diz a música, "..anunciar para o mundo ouvir que Jesus é nosso salvador!!" é de Cristãos como você que o mundo precisa e nada me impede de fazer o mesmo. a não ser, muitas vezes, o medo de represálias, mas isso tenho que deixar de lado e proclamar a palavra do Pai. não quero ser mais um Cristão só de missa, mas um Cristão de missões.

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