sábado, 10 de setembro de 2011

Santa Rosa de Lima

Nativa nos primórdios do Novo Mundo, esta extraordinária mística peruana galgou os mais altos cumes da santidade.
Para vencer o desregramento que atingiu nossa natureza depois do pecado original e adquirir domínio sobre os movimentos da concupiscência é preciso que nos mortifiquemos, aplicando, segundo a norma pregada por Santo Inácio, o agere contra.
Isso explica o grau incrível de penitência que praticaram muitos santos. Alguns deles, como Santa Rosa de Lima, o fizeram de modo tão categórico, que choca o homem amolecido e relativista de nosso século. É por isso uma santa para ser admirada, mas nem sempre se alcança imitá-la, a não ser almas com uma vocação muito especial.
Filha de numerosa e honrada família de mediana fortuna da capital peruana, a futura Santa Rosa de Lima nasceu no dia 20 de abril de 1586.
Quando Isabel — nome que recebeu no batismo — tinha apenas três meses, sua mãe viu seu rostinho transfigurar-se numa formosa rosa. A partir de então passou a chamá-la pelo nome com que ficou mundialmente conhecida, que foi também o de sua confirmação, feita pelo arcebispo de Lima, São Toríbio de Mogrovejo.
Os pais a criaram segundo as máximas de nossa santa Religião. Desde muito cedo a menina teve um sexto sentido para tudo quanto se referisse a Deus Nosso Senhor e à fé católica.
Já aos três anos agia como se tivesse pleno uso da razão, dando provas de virtude apanágio só de pessoa mais experimentada. Assim, um dia em que foi pegar algo numa pesada arca, o tampo caiu-lhe sobre a mão, ferindo gravemente um dos dedos. Este depois inflamou, sendo preciso submetê-la a doloroso tratamento. A menina suportou tudo sem chorar nem se queixar, muito impressionando a todos.
Pouco depois sua mãe teve a infelicidade de lhe aplicar um produto à base de mercúrio no couro cabeludo, para curar algumas erupções. Este penetrou na pele e causou graves lesões. Contudo, apesar da dor que isso provocava, a menina não se lamentou.
Alguns biógrafos relatam que Rosa fez o voto de virgindade aos cinco anos de idade.
Ao crescer, soube Rosa a razão pela qual lhe tinham mudado o nome. E, em sua humildade, julgou que isso era mais motivo de vanglória que de glória. Apresentando seu receio a Nossa Senhora, Ela lhe apareceu com o Menino Jesus nos braços, e disse: “Meu Filho gosta desse nome, e deseja que a ele acrescentes o meu, de maneira que passes a chamar-te Rosa de Santa Maria”.
Rosa compreendeu bem que os favores extraordinários que ela recebia do Céu constituíam um motivo a mais para, seguindo as inspirações da graça, cumprir tudo com a maior perfeição. E exercitava-se em casa em todas as práticas dignas da religiosa mais fervorosa.
Uma série de reveses privou os pais de Rosa de quanto possuíam, deixando-os em extrema necessidade para cuidar da numerosa família. A santa, que era exímia no manejo da agulha, passou a confeccionar rendas e bordados para ajudá-los. Dividiu para isso o dia em três partes: na primeira, de 10 horas, fazia trabalhos de mão; na segunda, de 12 horas, dedicava-se à prece. Nas duas horas restantes ela repousava. Vencer o sono foi um de seus maiores esforços. Quando se punha em oração, por mais que mudasse de posição, o sono vinha sempre, e ela tinha que fazer esforços inauditos para vencê-lo. Para acordar no horário que se havia fixado recomendava-se sempre à Santíssima Virgem, que muitas vezes vinha pessoalmente acordá-la.
Rosa transformou-se numa bela moça, cujo maior atributo era a virtude. Por isso a mãe pensou em casá-la com um bom partido, a fim de ajudar a prover às necessidades sempre crescentes da família. E, quando surgiu um pretendente ideal — filho único de viúva rica —, sua mãe a pressionou de todos os modos para que aceitasse o casamento. Mas ela respondia que já se entregara a Deus Nosso Senhor. Toda a família uniu-se para tentar fazê-la mudar de opinião, mas nem agrados, nem maus tratos conseguiram demovê-la.
Rosa leu a vida de Santa Catarina de Siena e tomou-a como modelo e advogada. Desejosa de ser, como ela, terceira dominicana, vestiu o hábito da Ordem Terceira da Penitência do Patriarca São Domingos no dia 10 de agosto de 1610.

A partir desse momento julgou que deveria esmerar-se ainda mais na penitência e mortificação pela Santa Igreja, por sua pátria, pela cidade de Lima e pelas almas do Purgatório, de quem era muito devota. Para se ter uma ideia do que isso significava, convém ter presente que, desde os seis anos de idade, Rosa jejuava a pão e água nas sextas-feiras e nos sábados; aos 15 anos fez voto de não mais comer carne, a não ser por obediência; depois passou a tomar uma só refeição por dia, que constava de uma sopa feita com pão e água; além das flagelações diárias a que se submetia, usava à cintura um cilício feito de correntes, fechado por um cadeado cuja chave jogara fora. A corrente penetrou-lhe na carne, que se inflamou, provocando dores inauditas. Foi preciso quebrar o cadeado para tirar o cilício, que deixou chagas em seu corpo.
O desejo de Rosa pela salvação das almas crescia em proporção do seu amor a Deus. Considerando que elas foram resgatadas por Nosso Senhor, sentia dor acerba em pensar que muitas se perdiam. Pensava, sobretudo, nos que se apartaram da verdadeira Igreja com a heresia protestante; nos pagãos mergulhados nas trevas da idolatria; e nos muitos católicos que viviam como se não tivessem uma alma a salvar. Para livrar todas as almas, queria colocar-se às portas do inferno para impedi-las de nele cair.
A um de seus confessores que partilhando de seu zelo apostólico se sentiu impulsionado a levar a luz do Evangelho às terras dos idólatras, ela prometeu fazê-lo partícipe de todas as suas boas obras, contanto que ele a associasse ao mérito de seu apostolado. Tinha planos de criar um menino pobre para que ele se tornasse sacerdote e fosse às missões converter infiéis em seu lugar.
Chocava-a constatar que muitos sacerdotes não tinham verdadeiro zelo pelas almas, perdendo seu tempo com sermões inócuos. Depois de ouvir um deles, que tinha fama de grande orador, de estilo florido e redundante, ela lhe disse: “Meu pai, vede que Deus vos fez pregador para que convertêsseis almas; não gasteis vosso talento ociosamente em flores, que é trabalho inútil. Lembrai-vos da conta que Deus vos pedirá por tão alto ministério”.
Aos confessores e pregadores rogava que persuadissem seus penitentes e ouvintes de que a oração é o remédio universal para todas as enfermidades do corpo e da alma. Nunca deixou de rezar o Rosário, no qual considerava que as orações vocal e mental estavam muito bem conjugadas.
Os êxtases de Rosa de Santa Maria eram tão frequentes que bastava ela entrar em oração para seu espírito subir às mais altas paragens. Cheia de gratidão, dedicava determinadas horas do dia para agradecer a Deus pelos inúmeros benefícios que recebia. Meditava constantemente nos atributos do Altíssimo e venerava cada um deles de modo particular.

Com a ajuda de um de seus irmãos, construiu uma ermida no jardim da casa e nela passou a viver retirada. Ali experimentou todos os fenômenos da vida mística.
Os frequentadores do convento do Rosário a certa altura notaram que ela, contrariamente ao que fazia todos os dias, não mais aparecia para assistir à santa Missa. Rosa respondeu que não necessitava sair de sua ermida para assisti-la, pois, de sua cela, via e ouvia quantas missas se celebravam no hospital do Espírito Santo e no convento de Santo Agostinho.
Rosa sofreu também muitas provações espirituais, chegando a ser tentada de que não salvaria sua alma. Uma vez em que apresentava a Nosso Senhor esse grande temor, disse-lhe Ele: “Minha filha, tem ânimo, que eu não condeno senão aqueles que querem condenar-se”.
Santa Rosa de Lima faleceu em 24 de agosto de 1617, aos 31 anos de idade, sendo canonizada em 1672.
 Plínio Maria Solimeo
Revista O Catolicismo

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