quinta-feira, 2 de maio de 2013

Adversus Haereses

                  Atualmente vivemos em um mundo conturbado de teorias e mais teorias que visam não a elevação de nossas almas, mas a degradação daquilo que acreditamos e cuja toda a realidade nos leva a uma única certeza: a existência de Deus. 
                Já não podemos nos calar diante de tantas inverdades lançadas sobre as pessoas, já nãopodemos permitir que o berço do ensino, o fruto da Igreja Católica, seja o local onde as falsas doutrinas se inserem de forma rápida e descompassada. É com este pensamento que apresento aos blogueiros Rosarium, este belíssimo desabafo de uma alma que a cada dia visa adora m espírito e em verdade.

               
               A presente reflexão nasceu subitamente, a partir de um despautério ouvido em uma sala de universidade, numa aula de literatura. Senti-me impelido a escrever estas linhas como um reflexo instantâneo a algo que tem sido ordinário na cultura contemporânea. Em determinado momento da aula, em seus minutos iniciais (ou seja, o raciocínio não estava ainda capaz de filtrar informações trôpegas oriundas de mentalidades revolucionárias), ouviu-se dizer que Jean-Paul Sartre, ateu convicto, cria numa ideologização de Deus interiorizada ao ser humano. Bem, até aí, ainda que isso talvez não seja intrinsecamente verdade em toda a sua amplitude, vá lá. Porém, em seguida, uma frase ainda mais temerária (para não dizer capciosa) dita com a placidez de uma folha de outono caindo da árvore: “Mesmo porque, gente, talvez Deus seja isso mesmo: uma ideologia interior do homem, uma força humana muito profunda”.
             Certamente não vou me dispor a exigir aqui que todos os seres humanos presentes nas universidades sejam cristãos católicos devotos e santos. Não sou idiota a ponto de crer que isso seja algo além de utopia. Tenho plena consciência também de que as instituições educacionais, sendo particulares ou do governo, não têm como caráter principal o dever de pregar ou estimular a ortodoxia da fé cristã ou de qualquer outra religião, salvo aquelas instituições que sejam declaradamente confessionais. O que de fato me preocupa, surpreende e, poderia até dizer revolta, é a sistemática adoção de uma postura que esteja, pouco a pouco, varrendo para o lixo da psique humana, toda e qualquer relação com o sagrado quando esse sagrado provenha de outro ente, outro ser totalmente diverso da natureza humana. Dito de outro modo: pouco a pouco (ou nem tão pouco a pouco assim, ao que se vê), a relação do homem com qualquer coisa que o eleve espiritualmente está sendo docemente retirada dos conceitos humanos.
            Está certo que nem todos devem crer igual, ainda que eu tenha plena consciência e certeza de fé que existe somente UMA VERDADE, e é esta: JESUS CRISTO, Homem-Deus, enviado a nós pelo Pai para redimir a humanidade. Que outros não creiam nisso, uma pena, mas é justamente essa realidade que enseja que eu viva o testemunho de minha fé. O fato a que aqui me refiro é que a figura dessa fé num Deus providente, misericordioso, amoroso, está sendo desconstruída como alguém que todos os dias usa um sabonete e este vai desaparecendo. Ou por outro lado, se é difícil demais crer que a imagem de Deus em nossa sociedade esteja sendo desconstruída, pode-se perceber que há outra imagem de Deus sendo plasmada nas mentes e corações dos homens de hoje. Como um animal que é caçado, empalhado e posto como enfeite no escritório de um magnata, o que temos na era moderna é uma sociedade que não suporta mais o fato de que necessita de rédeas para chegar ao seu pleno desenvolvimento, e por isso cria para si totens, deuses de neon, simulacros de divindade e, pior ainda, um ser humano que usurpa uma condição pretensamente superior. A partir de tal realidade, podemos entrever nuances ideológicos perigosos traçar paralelos históricos aterrorizantes. Marx, através de suas teorias políticas, propalava a evolução do homem ao SUPER HOMEM, o supra humano; Hitler, desnecessário dizer, demonizou judeus, negros, homossexuais em nome de uma supremacia ariana pura; para falarmos no âmbito religioso, Leonardo Boff, com sua herética (apóstata, na verdade) teologia da libertação, chega a declarar que “Jesus Cristo era, enquanto homem, tão profundamente humano que só poderia, de fato, ser Deus”. Sim, soa bonito e sedutor, tanto quanto uma dose de veneno servida em uma taça de cristal.
            A tudo isso se poderia, com propriedade, chamar de secularização da sociedade, se a atitude não fosse ainda pior do que tão somente secularizar o homem. O fenômeno que ocorre em nosso tempo é claramente uma investida selvagem para que algo, seja lá o que for, se interponha entre Deus e o ser humano, de modo que este já não possa sequer ter a mais vaga lembrança de que um dia creu em uma Vontade alheia à sua, inteligente, superior, criadora e perfeitíssima. Este algo que se atravesse entre o ser humano e Deus, pode tomar diversas cores e formas na era atual, mas, de modo mais perigoso e traiçoeiro, o próprio homem, de modo que ele  se torne o deus de si mesmo. Sob esse véu, aparentemente humanista e promotor da dignidade do homem, escondido como sempre, desde os imemoriais tempos da criação, uma força opositora a Deus, revoltada, tomada de ira se mostra e se desenha como uma sombra na parede. Artigo de fé na religião cristã, ainda que hoje sua existência seja tão contestada e posta em xeque, o príncipe deste mundo dita as regras com que a sociedade contemporânea faz girar a máquina do mundo.
            O Santo Padre Paulo VI, em ocasião de uma de suas audiências públicas, proclamou: “(...) o mal não é somente uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo,  espiritual, pervertido e pervertedor. Uma terrível realidade. Misteriosa e pavorosa. (...)”[1]. Por sua vez, o Beato João Paulo II alertou-nos também acerca desta realidade e, de modo profético, disse em uma de suas catequeses que um dos maiores enganos de Satanás na era moderna é fazer com que já não se acredite mais em sua existência. Não nos faltam, portanto, alertas acerca das artimanhas do inimigo para se infiltrar novamente no seio da criação e levar a natureza humana a dar as costas para Deus. Grassa em nosso tempo a inegável impressão de que, cada vez mais, o homem vê a Deus não como um pai amoroso e misericordioso, mas como um inimigo, um velhaco a quem se deve temer, odiar, ter repulsa. Ora, não há aqui outra coisa senão a mesma sedução enganadora com que Satanás levou à queda nossos primeiros pais.
            É preciso estarmos atentos a esses ardis, a essas sutilezas que a mentalidade moderna tem derramado lautamente em nossos jovens, em nossa mídia, em nossa sociedade de um modo geral. Em nome de uma educação revolucionária, o que se pretende não é outra coisa senão fazer com que o homem chegue à falsa ideia de que a realidade espiritual não passa de mito, crendice, pequenez de raciocínio no pobre intelecto de almas ignorantes, que se deixam levar por medievalismos. O estratagema para isso? Justamente a realidade da qual eu falava no princípio desta reflexão: pílulas de revolta ditadas por professores universitários, frente aos quais, não raramente, a mente de jovens e de tantas outras pessoas se rende facilmente, seduzida por uma retórica bem trabalhada. Chegar, portanto, à plena e categórica negação de Deus, não será difícil, uma vez que, gradativamente, a mente e o coração do jovem vai sendo alimentado com tal veneno.
            É tempo de despertar para tal realidade. É preciso que peçamos ao Senhor a têmpera dos mártires, e um profundo discernimento acerca daquilo que nos cerca. “Mas, ó terra e mar, cuidado! Porque o demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12, 12b). É o tempo da grande tribulação, onde os tribunais a que seremos levados estarão ocultos sob a farsa de salas universitárias onde se proponha um conteúdo em que o homem seja seu próprio deus, levando-o à desgraça de perder-se eternamente.
            Fiquemos atentos à Verdade, pequeno rebanho.
Sub tuum praesidium confugimus,
Sancta Dei Genitrix.
Nostras deprecationes ne despicias
In necessitatibus nostris.

Roberto Amorim.
24 de abril de 2013.




[1] Audiência pública de 15 de novembro de 1972. Vaticano. 

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