Em um mundo marcado de ressentimentos, eis que certa vez
uma mulher entoou o mais belo cântico de louvor, um cântico direcionado
unicamente ao seu Senhor: “Disse então Maria: A minha alma
engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; porque
atentou na baixeza de sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me
chamarão bem-aventurada...” (Lucas 1, 46-48)
Quão bem aventurada é esta mulher que até os dias de
hoje, tem como desejo exaltar ao seu Criador. Mulher que ao ser imitada nos faz
contemplar o Cristo redentor, pois é ela o modelo insuperável de contemplação.
Se nos colocarmos diante da história de vida de Maria,
perceberemos com clareza que esta simples mulher percorreu caminhos que nenhuma
outra criatura poderia seguir, nem mesmo os apóstolos escolhidos por Jesus.
Maria, assim como a oração do santo terço apresenta, é um inventário de todos
os passos dados por seu filho. Quem consegue fixar o olhar na Virgem, consegue
identificar o mistério ordinário e também doloroso da humanidade de Cristo. O
que Jesus sentia no corpo, Maria sentia na alma. Sentia na alma de forma
incompreensível, como ocorreu na perca e no encontro do Menino que diante da
sua angustia dizia: “Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém
tratar dos negócios de meu Pai?” (Lucas 2, 49)
Em uma escala cronológica, notaremos que Maria
apresentou ao seu filho diversos olhares: um olhar adorador, como foi em seu
nascimento deitado em uma manjedoura; um olhar interrogativo, como citado
acima, quando Jesus estava no templo junto aos doutores; um olhar penetrante de
quem advinha os sentimentos do Filho, como foi em Caná (João 2, 5) e até mesmo
um olhar de dor, como foi ao ver seu Filho ser humilhado, flagela e
crucificado. Mas os olhares de Maria não
abrangem somente esta quatro fases. Existe ainda o olhar radiante de alegria
com a ressurreição de Jesus; e o olhar maternal de quem dá novamente à luz
quando Jesus diz, “mulher, eis aí os teus filhos.”
Contemplar Jesus por meio de Maria é fazer com que
cada momento seja refletido com profundidade. Papa João Paulo afirmava que por
meio das recordações (pois lembrar Maria é recordar a vida de Jesus) de Maria,
foi que surgiu a oração do Rosário, pois ela propõe os mistérios do seu Filho,
sintonizando com lembranças e com olhares aquilo que ela lembrou e contemplou
junto ao seu Amado.
“O Rosário, precisamente a partir da experiência de
Maria, é uma oração marcadamente contemplativa” quando rezado com conversão.
Por isso a oração do Rosário não pode ser um ato repetitivo, pois o seu
resultado deve ser um brado salvístico, pois lembrar Jesus, percorrer o caminho
de vida, missão e morte é mergulhar nas profundezas do amor junto a Virgem.
O Rosário sem contemplação “é um corpo sem alma”,
assim como caminhar com Maria é um recordar perfeito de Jesus! Por isso se faz
necessário buscarmos Maria sempre que possível. Não há ninguém que melhor
ensine a amar e a obedecer; não há nenhum outro que ensine a contemplar de
forma tão eficaz quanto Maria, pois é ela “o verdadeiro ícone da maternidade da
Igreja”.
São Luís, 25/05/2013
Aline Xavier Bras
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