domingo, 23 de junho de 2013

Uma análise sobre o fruto proibido

Durante esta semana, ao ler um artigo da professora Adriana Zierer[1] passei a refletir sobre a árvore do bem e do mal e o fruto proibido. Absorta naquilo que o artigo tratava, passei a questionar-me: quem disse que a maçã é o fruto proibido? Embasada na obra, quero aqui partilhar um pouco sobre a opinião que a professora e escritora apresenta aos leitores com relação aos significados medievais que tal fruto carrega em toda sua história.
Ao longo de nossa existência, tomamos conhecimento da história de Adão e Eva e a origem do pecado a partir do momento em que estes, ao se deixarem seduzir pelas propostas da serpente, comem o fruto proibido, atualmente representado pela maçã. Mas porque a maçã, se a Bíblia não se refere a ela como sendo o tal fruto? Sem saber como a fruta foi associada ao fruto proibido, Zierer nos apresenta duas obras de arte no qual ela detalha cada parte da obra a fim de nos fazer interpretar o equilíbrio existente no meio trabalhado.
A primeira obra a ser detalhada trata-se da pintura de Lucas Cranach[2] (1472-1553), Adão e Eva, 1533. Valorizando sempre o nu, Cranach usava traços sensuais nas suas obras de caráter religioso e mitológico. Ao representar o primeiro casal humano criado por Deus, o artista “segue a visão cristã medieval
a respeito do pecado original”, expondo um equilíbrio entre o bem e o mal e, o forte e o fraco.
Na obra, percebe-se certa proximidade entre Eva e a serpente. Tal aproximação evidencia o mal completamente ligado à mulher, que assume uma postura dissimulada perante o seu companheiro ao esconder a maçã ao mesmo tempo em que lhe oferece outra. Segundo Zierer, “o ato de esconder sugere ao espectador uma intenção claramente maliciosa por parte de Eva”. E com relação a Adão? Bem, não posso seguir aqui a mesma linha da autora, pois ela afirma que Adão estava completamente seduzido por Eva. Prefiro acreditar que Adão estava confiando em sua companheira. O olhar fixo nos olhos dela nos assegura tal realidade.  
A presença dos animais também nos revela algumas teorias bastante relevantes. Zierer acredita que a presença dos animais é que assegura o equilíbrio citado anteriormente. Símbolo do mal, a serpente foi o canal que convenceu e encaminhou Eva ao pecado original. A fim de nos mostrar certa “harmonia” nos espaço apresentado, o artista acrescenta à composição o cervo e o leão com o intuito de nos mostrar que no Jardim do Éden havia um “convívio pacífico entre um predador e a sua presa.
“O cervo, que se encontra próximo de Adão, tem uma analogia com a árvore da vida. Sua galhada é um símbolo de renovação cíclica, pois renova-se a cada ano. Ele é portado da luz, inimigo da serpente e representa Cristo” (Zierer, 2013, p. 21)
Estando associado à força e ao poder (rei das selvas), o leão “simboliza a encarnação do poder”.
Esta é apenas uma de muitas interpretações que podem surgir sobre esta obra de arte, o que não impede de partilhar outras análises, uma vez que esta, em particular, não explica o real sentido da obra e como ela está associada aos personagens representados.
Feita a análise desta primeira obra, Zierer vem nos dizer em seu artigo que a maçã, possuía duplo significado durante a Idade Média: fruto do pecado original e, fruto da absolvição do pecado, que veremos logo a seguir em uma segunda obra de Lucas Cranach.
Na obra A Virgem e o Menino (1525-1530), a figura da maçã novamente se faz presente com um sentido diferente da obra analisada anteriormente. Aqui o Menino “segura em suas mãos pão e maçã”. Maria representa a segunda Eva, que como um antídoto, vem redimir o pecado da primeira. Logo, nesta
representação, assim como a maçã pode ter um significado de causadora do pecado, ela também aqui pode representar a salvação, assim como o pão (corpo de Cristo).
Em latim, maçã tem a mesma escrita que a palavra mal, mas conforme Zierer, dentro do contexto medieval, a maçã representa várias culturas e “devido ao fato de suas raízes mergulharem no solo e seus galhos voltaram-se ao céu, é considerada como representante das relações entre a terra e o céu” (Zierer, 2013, p. 22). Tal interpretação faz com que este se torne o “eixo do mundo”, sendo relacionada à redenção, “que na iconografia cristã é representada como a árvore da vida”.
Também sendo associada a vários deuses da mitologia grega, a árvore, assim como o seu fruto, simboliza a fé e o conhecimento, representando Cristo. O fruto também vem trazer outra reflexão, dor e sofrimento, pois a partir do momento em que eles (Adão e Eva) adquiriram a capacidade de discernimento ao comer o fruto, eles também passaram a ter uma vida de tribulações, perdendo a imortalidade e sendo expulsos do Jardim do Éden.
Eis aqui uma riqueza de conhecimento que precisa ser partilhado com os demais. Algo que envolve fé, razão, cultura e conhecimento. Uma narrativa que merece ser refletida a fim de acrescentar algo em nossas vidas.
Sabendo que a maça, além de ser associada ao pecado original, nos dias de hoje também vem representar o sentimento entre os casais apaixonados. Fruto do amor, a maçã é algo que vê sendo relacionada ao amor em seus mais diversos aspectos, e é por essa razão que irei usufruir do pensamento de Santo Agostinho em sua jornada de conversão: “O coração é recipiente do amor divino e os homens devem procurar o conhecimento através do amor”.
São Luís, 23/06/2013
Aline Xavier Bras





[1] Doutora em História Medieval pela UFF, docente da UEMA e professora colaboradora do Mestrado em História Social da UFMA.
[2] Pintor da corte da Saxônia até 1550 e prefeito de Wittenberg em 1537, foi também um dos expoentes do renascimento alemão.

domingo, 26 de maio de 2013

Contemplar Jesus por meio de Maria


Em um mundo marcado de ressentimentos, eis que certa vez uma mulher entoou o mais belo cântico de louvor, um cântico direcionado unicamente ao seu Senhor: “Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; porque atentou na baixeza de sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada...” (Lucas 1, 46-48)
Quão bem aventurada é esta mulher que até os dias de hoje, tem como desejo exaltar ao seu Criador. Mulher que ao ser imitada nos faz contemplar o Cristo redentor, pois é ela o modelo insuperável de contemplação.
Se nos colocarmos diante da história de vida de Maria, perceberemos com clareza que esta simples mulher percorreu caminhos que nenhuma outra criatura poderia seguir, nem mesmo os apóstolos escolhidos por Jesus. Maria, assim como a oração do santo terço apresenta, é um inventário de todos os passos dados por seu filho. Quem consegue fixar o olhar na Virgem, consegue identificar o mistério ordinário e também doloroso da humanidade de Cristo. O que Jesus sentia no corpo, Maria sentia na alma. Sentia na alma de forma incompreensível, como ocorreu na perca e no encontro do Menino que diante da sua angustia dizia: “Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lucas 2, 49)
Em uma escala cronológica, notaremos que Maria apresentou ao seu filho diversos olhares: um olhar adorador, como foi em seu nascimento deitado em uma manjedoura; um olhar interrogativo, como citado acima, quando Jesus estava no templo junto aos doutores; um olhar penetrante de quem advinha os sentimentos do Filho, como foi em Caná (João 2, 5) e até mesmo um olhar de dor, como foi ao ver seu Filho ser humilhado, flagela e crucificado.  Mas os olhares de Maria não abrangem somente esta quatro fases. Existe ainda o olhar radiante de alegria com a ressurreição de Jesus; e o olhar maternal de quem dá novamente à luz quando Jesus diz, “mulher, eis aí os teus filhos.”
Contemplar Jesus por meio de Maria é fazer com que cada momento seja refletido com profundidade. Papa João Paulo afirmava que por meio das recordações (pois lembrar Maria é recordar a vida de Jesus) de Maria, foi que surgiu a oração do Rosário, pois ela propõe os mistérios do seu Filho, sintonizando com lembranças e com olhares aquilo que ela lembrou e contemplou junto ao seu Amado.
“O Rosário, precisamente a partir da experiência de Maria, é uma oração marcadamente contemplativa” quando rezado com conversão. Por isso a oração do Rosário não pode ser um ato repetitivo, pois o seu resultado deve ser um brado salvístico, pois lembrar Jesus, percorrer o caminho de vida, missão e morte é mergulhar nas profundezas do amor junto a Virgem.

O Rosário sem contemplação “é um corpo sem alma”, assim como caminhar com Maria é um recordar perfeito de Jesus! Por isso se faz necessário buscarmos Maria sempre que possível. Não há ninguém que melhor ensine a amar e a obedecer; não há nenhum outro que ensine a contemplar de forma tão eficaz quanto Maria, pois é ela “o verdadeiro ícone da maternidade da Igreja”.

São Luís, 25/05/2013
Aline Xavier Bras

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A riqueza cultural disposta pela Igreja Católica




Como comunidade cristã, a Igreja Católica dispõe de riquezas com valores imensuráveis junto à sociedade, riquezas essas que serão carregadas por toda uma vida, tornando-se indestrutíveis, pois em sua maioria, trata-se de bens imateriais a serem contempladas e preservadas.
Em busca do conhecimento, a Igreja ao longo da sua existência tem colaborado de forma direta para o progresso da sociedade no que tange aspectos culturais e científicos. Foram muitos os estudos que buscavam compreender a nossa origem e como se dava a disposição de todas as coisas; muitos foram os métodos usados para a criação do sistema agrícola e industrial, além de estudos visando compreender o nosso sistema solar. E o que dizer de suas ações durante a Idade Média? Uma luz em meio às trevas!
Apesar da sua atuação enriquecedora dentro do meio social, há que venha julgar e condenar a Igreja. Ao menor erro ou deslize, tudo o que ela fez de bom para a sociedade desaparece, prevalecendo apenas os erros cometidos por aqueles que a representam. Mas, apesar de todas as turbulências, eis que as suportaremos felizes, pois a “sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mateus 16, 18)
Quando falamos de riqueza cultural disposta pela Igreja, falamos daquilo que ela deixou e permanece até os dias atuais. Uma dessas heranças preservadas e fortemente presente nos dias de hoje, trata-se das imagens que como seta, orienta os fiéis a percorrer um caminho de santidade de forma mais firme. Mas tal manifestação artística foi alvo de heresias que nos condenavam e condenam até hoje.
Estudos realizados por Thomas E. Woods revela que nos séculos VIII e IX surgiu uma heresia que “rejeitava a veneração de imagens, ícones ou símbolos religiosos, e chegou a rejeitar a representação de Cristo e dos santos em qualquer tipo de arte”. Tal heresia é denominada de Iconoclasmo.
Adotado pelo imperador bizantino Leão III, a iconoclastia pretendia “proclamar uma doutrina que todos os que cressem em Cristo deviam aceitá-la”, pois a arte não poderia ser algo figurativo, ou seja, elas não poderiam representar a figura de Deus, ou Maomé, como é chamada na cultura islâmica. Leão III acredita que suas derrotas em batalhas enfrentadas contra os muçulmanos era castigo de “Deus por eles fazerem ícones e imagens” representando a Divindade.  Em protesto contra está lei, o monge São João Damasceno, com base bíblica e, fundamentado na tradição da Igreja, argumentava “que Deus não se opõe à veneração das imagens; em conseqüência, defendia teologicamente toda a arte religiosa”.
Fazer arte, de modo especial, arte religiosa requer um método que consiste em apóia-se “em princípios teológicos católicos”, a fim de compreendemos o real sentido transparecido por uma obra artística. Graças a tais fundamentações teológicas, no ano de 843, a iconoclastia foi abandonada pelos bizantinos que “voltaram a criar e venerar os ícones de Cristo e dos santos”.
Logo, as artes religiosas possuem por trás de toda a sua matéria algo extraordinário, é uma força mística que carrega o ambiente e proporciona à pessoa uma intimidade com Deus. Nisso consiste a arte bem elaborada: proporcionar intimidade. As imagens, as pinturas, construções e todas as demais obras religiosas funcionam como setas que indicam o caminho. Um santo, quando representado por um ícone, tem o poder de dizer que seguindo os seus passos estaremos aptos a nos tornar santo, assim como a cruz, que informa que alguém foi capaz de se sujeitar à humilhação de morrer como criminoso para nos salvar, logo, nos fazer refletir e contemplar é a função exercida pelas artes católicas expostas para serem veneradas pelos fiéis.
São Luís, 22/05/2013
Aline Xavier Bras

Refletindo o santo Rosário...



 
Em toda a história da humanidade nunca houve nada mais belo e contemplativo do que a oração do rosário quando feita com devoção. É um abrir mão de todas as coisas para mergulhar em uma narrativa que nos leva a sentir o gozo, a dor, a glória e a iluminação dos mistérios que regem a vida Daquele que nos ama!
Sendo formado no segundo Milênio, na região do Ocidente, o Rosário é uma das orações preferidas dos religiosos católicos, pois ele trás consigo a capacidade de nos fazer contemplar toda a vida de Cristo, elevando a alma de quem o reza a Deus. O rosário produz frutos de santidade, nos impulsionando por meio do Espírito Santo a afirmarmos com toda a força de nossa a alma que Cristo é o caminho, a verdade e a vida.
Apesar de ser regido de orações marianas, o rosário tem como único objetivo “deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor”, pois Maria tem como meta, levar-nos ao seu filho amado.
 É notável que a presença da Virgem em cada mistério é uma forma de pedir a sua poderosa intercessão em nossas vidas a fim de que futuramente obtenhamos a graça ao olhar embevecidamente para cada passo de nosso Senhor assim como ela o fez. Desta forma, conforme explicitado na Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte: “recitar o rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de Cristo”. E neste recitar, Papa João Paulo II afirmava que “o rosário, quando descoberto no seu pleno significado, conduz ao âmago da vida cristã, oferecendo uma ordinária e fecunda oportunidade espiritual e pedagógica para a contemplação pessoal, formação do Povo de Deus e a nova evangelização” [1].
Em uma época onde a oração dos leigos encontra-se em crise, o rosário tornar-se uma expressão de fé a ser resgatada, pois há quem diga que o mesmo foge à liturgia, além de trazer em si um caráter ecumênico. Mas Papa João Paulo II abre nossos olhos, esclarecendo que “esta oração não só não se opõe à Liturgia, mas serve-lhe de apoio... ao recolher seus frutos na vida quotidiana”. Quanto à natureza ecumênica, “o Concílio delineou: um culto orientado ao centro cristológico da fé cristã, de forma que, honrando a Mãe, melhor se conheça, ame e glorifique o Filho...”
Em tempos de guerras, lembrar o Rosário é trazer à memória a aparição de Nossa Senhora de Fátima que pedia a oração do terço pela paz mundial. É saber reconhecer a urgência da atualidade e correr aos braços do Pai por meio da recitação do Rosário, firmando um compromisso de “serviço à paz”.  É reconhecer que a exemplo da Mãe do Salvador, alimentamos a nossa alma de instinto meio que maternal, cujo olhar fixo ama, adora e espera Naquele que é simplesmente o mais puro e verdadeiro Amor.

São Luís, 22/05/2013
Aline Xavier Bras




[1] Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Deus te deu a mim

Em dados momentos de nossas vidas, Deus chega até nós para manifestar o seu pensar em forma de poesia sobre aqueles que se deixam ser usados como instrumentos. Pensamentos poéticos que surgem dentro de nós como uma espécie de oração que cala fundo os nossos corações. Paramos e refletimos, chegando à conclusão de que essas são palavras que serão lembradas por toda uma vida. Eis aqui um dos belíssimos pensamentos que Deus suscita nos corações de alguns jovens que são canais da graça!


" 'Talvez Deus deseje te dar esta pessoa...' Mas como assim, dar uma pessoa? Soa tão estranho, não parece que torna o outro uma coisa? (...) João Paulo II nos ensinou com a vida que amizade é olhar o outro como um dom, um presente criado por Deus. E presente a gente dá, 'doa' a alguém, não retém para si." (Treco do livro: Quero um amor maior - Adriano Gonçalves)

E só Deus em sua tamanha generosidade poderia nos dar tão grande presente. Mesmo sabendo que você, ela, ele, eu somos a coisa mais amada e valiosa para Ele, ainda assim, não nos reteve somente para si. Muito pelo contrário. Te deu à mim, me deu à você. E tá pensando que esse 'não reter' para só aí? Acredito que vai muito além.. Muito mais além.
Quer saber o que é esse 'ir mais além' ? 
Pare e apenas olhe para esse presente que Deus te deu e vai lembrando de tudo o que já se passou até chegar nesse exato momento... Pensou?
Sofreram? Riram? Choraram? Se sacrificaram? Mudaram? E em algum devido momento desistiram de caminhar juntos por acharem que não dava mais ou até mesmo por estarem inseguros?
Devido a tudo isso creio que o sentimento seja de verdade. Sabe por que? Porque pra ser amor de verdade algumas vezes tem que doer e até fazer chorar um pouquinho. Não pense você que o amor são só sorrisos e caminhos sem espinhos, porque não são.

Ah, lembra do ir mais além que havia falado antes? Então, é isso! Crescer. Se tornar gigante para o outro e para nós. E mesmo com todas as nossas limitações ser mais gente.

E sabe o que é mais maravilhoso nisso tudo? 
Saber que tudo com Deus é um continuação. Uma coisa vai ligando a outra. Deve ser por isso que todo dia acordamos com mais vontade por essa busca pela eternidade, porque ela se faz em todo amanhecer e se renova em todo entardecer.

"Deus te deu a mim" e esse é um dos grandes propósitos de Deus para a nossa vida: conservar o amor que Ele nos deu e esse amor é você, sou eu... Somos nós!

Rio de Janeiro, 20/05/2013
Hayanne Cristhian

domingo, 5 de maio de 2013

Igreja e ciência: trilhando o caminho do conhecimento II


Ao longo dos dias temos feito abordagens revelando a verdade por trás de todo o progresso científico do contexto histórico que foi vivido séculos atrás até os dias de hoje. Levantamos assuntos relacionados à Idade das Trevas que também é a Idade da luz e, o quanto os monges exerceram fundamental importância para o desenvolvimento das tecnologias. Ainda sim, muitas coisas precisam ser estudadas e reveladas à sociedade que por falta de conhecimento, tende a julgar a Igreja por algo que ela não fez, não nas proporções divulgadas pela mídia.
A partir de algumas leituras e até mesmo com base em algumas reportagens, percebemos que historiadores têm notado a importância da Igreja no desenvolvimento da ciência, mas, apesar dos números de trabalhos escritos, a sociedade dominante ainda tende a limitar o acesso a essas fontes. Desta forma, é necessário que desmitifiquemos algumas teorias incertas divulgadas mundo a fora. Mas que teorias são essas?
Assim como em textos anteriores afirmamos que a Idade das Trevas foi um período não de decadência, mas de progresso científico e cultural; a Revolução Industrial não reduziu a qualidade de vida, pelo contrário, houve nessa época um crescimento do padrão elevado da média de vida[1]. Citamos também o caso de Galileu, onde a Igreja, de acordo com as suas teorias, o apoiava, mas por falta de comprovações científicas, pedia que este, ao ensinar, expusesse a teoria como hipótese, não como uma verdade absoluta. Assim como este três exemplos, há diversas realidades no qual a Igreja está envolvida diretamente para o bem estar da sociedade, mas infelizmente, a sua ação ainda é algo que o sistema político faz questão de ocultar por meio da deturpação de suas ações.
É interessante que aqui, revelemos que a tradição da Igreja, independente do período (antiguidade, pré-história, Idade Média...) visa apenas conceber Deus “como realidade racional e ordenada” [2], sendo que Deus impôs uma ordem às obras de sua sabedoria no ato da criação. 
Falando em criação, Pe. Jaki atenta para ordem na qual Deus realiza a sua obra. Com base no livro de Sabedoria 11, 20 que afirma que “Deus dispôs de todas as coisas com medida, quantidade e peso”; Jaki interpreta que Deus “não apenas deu suporte aos cristãos que defenderam a racionalidade do universo nos fins da Antiguidade, como também incentivou os cristão que viveram um milênio mais tarde, no começo da ciência moderna, ao investir em pesquisas quantitativas como caminho para entender o universo”. É interessante percebemos que ao longo da história, quem deu corpo e iniciou o progresso da ciência e do pensamento científico foram os católicos, e isso ocorre porque o ambiente católico estava preenchido de bases que reforçava essa iniciativa, ou seja, havia um conhecimento para que o progresso tivesse sua gênese dentro deste ambiente religioso.
Desta forma, a Igreja e as pessoas que estudam as suas ações conduzem um passo de fé e razão, logo, não foi por acaso que o Catolicismo implantou aos poucos o sistema universitário: uma vez que acreditamos que “a natureza opera de acordo com os padrões fixos e inteligíveis”, reconhecemos que a ação de Deus não se dá de forma arbitrária. Acreditamos e reconhecemos o milagre como algo real e sobrenatural, “mas a própria idéia de milagre já sugere que se trata de algo incomum” dentro de um plano natural e realista.
Fundamentados nessa teoria, podemos afirmar também que a ciência deve partir de uma teoria, de uma filosofia e principalmente da fé. Somente assim a ciência, quando especulada, ganha um norteamento com base sólida e um método para sua concretização, sendo que hoje “a fé metafísica é quem sustenta a fé na ciência”.
Apesar de todos os estudos, torna-se -à medida que obtemos informações sobre a ordem natural das coisas e do universo- evidente que a ciência é algo que provém de uma ordem Divina.
Dentro de todo este contexto de buscar o conhecimento por meio da fé e estando ciente de que é por meio da fé que passamos a conhecer, utilizo o pensamento de Adelardo Bath para encerrar esta breve reflexão: “é pela razão que somos homens, assim, se virássemos as costas para a surpreendente beleza racional do universo em que vivemos, mereceríamos sem dúvida ser expulsos dele, como um hóspede que se comporta mal na casa em que foi recebido. Não pretendo tirar nada de Deus, porque tudo o que existe provém dEle...”
Logo, tudo pertence a Deus e o que está nesta terra também pertence a nós, pois tudo Ele nos, mas, uma vez que o homem tenta ser Deus e excluí-Lo de tudo o que existe, tornamo-nos filhos desobedientes que tenta usurpar a criação de alguém. Só podemos explicar as coisas quando enxergamos a realidade do universo com os olhos da fé, ou seja, é necessário explicar todas as coisas por meio de Deus, do contrário, tenderemos ao fracasso do conhecimento.
São Luís, 05/05/2013
Aline Xavier Bras


[1] Historiado Pierre Duhen
[2] Pe. Stanley Jaki é historiador e doutor em teologia.

sábado, 4 de maio de 2013

Igreja e ciência: trilhando o caminho do conhecimento I


São muitas as acusações que se levantam contra a Igreja nos dias de hoje. Uma delas é de que esta instituição religiosa é a maior inimiga da ciência. Como assim, não foi a Igreja quem deu o pontapé inicial para o progresso das tecnologias? Não foi a Igreja quem criou o berço do conhecimento científico denominado Universidade? Então, como pode a sociedade levantar suposições de que a Igreja, a maior motivadora do conhecimento, é inimiga da ciência?!
É preciso entender que a história passa por algumas deturpações e que nem tudo o que está escrito, deve ser tomado como verdade absoluta. Seguindo essa linha de pensamento, faz-se necessário levantar diversas fontes para encontrar um ponto em comum, a fim de chegar o mais perto possível da verdade que narra a nossa história.
Uma dessas verdades é que a Igreja não pode apenas ser vista como inimiga, mas também como uma aliada. As pessoas que constituem a Igreja concerteza cometeram alguns erros, mas foram muitos os seus acertos. Por esta razão, é necessário entender o contexto à nossa volta.
Estudos têm sido feitos, e muitas coisas estão sendo desmitificada. Uma delas consiste no caso das teorias de Galileu, onde a Igreja é acusada de obstruir o progresso científico. Segundo outro ponto de vista, a Igreja não só reconheceu a teoria de Galileu, como também motivou o avanço da pesquisa científica.
Galileu abalou o sistema ptolamaico ao descobrir montanhas na lua e suas quatro fases, a esfericidade dos corpos celestes... Os eclesiásticos festejaram tais descobertas e, em meados de 1960, “Pe. Cristovão comunicava por carta a Galileu que os seus amigos astrônomos jesuítas haviam confirmado as suas descobertas...”, em Roma, Galileu foi saudado tanto por religiosos quanto por leigos. Após suas descobertas e com o apoio de religiosos católicos, Galileu ficou tão eufórico que se sentiu à vontade em escrever e publicar o livro História e demonstrações em torno das manchas solares e dos seus acidentes. Dentro deste contexto de descoberta e aceitação, é preciso compreender que a “Igreja não fazia objeção ao uso do sistema copernicano”, pois apesar de não ser comprovada cientificamente, a teoria em pauta explicava os fenômenos celestes.  Galileu, apesar da não comprovação científica, se recusava a ensinar a teoria como hipótese (a Igreja queria que Galileu ensinasse a teoria como hipótese até que surjam evidências), chegando a afirmar que a Sagrada Escritura deveria ser reinterpretada, gerando um clima ruim junto aos teólogos. Logo, os conflitos existentes entre a Igreja e Galileu, surge não por culpa da Igreja, uma vez que ela comprovou sua teoria e aguardava apenas por provas, evidências científicas. Logo, “parte da culpa dos acontecimentos subseqüentes deve ser atribuída ao próprio Galileu, que recusou qualquer ressalva e, sem provas suficientes, fez derivar o debate para o terreno próprio dos teólogos.” (Langford)
Percebe-se aqui que querer reinterpretar as Sagradas Escrituras é algo que perdura de muito tempo, mas precisamos entender e acreditar que essa Escritura é verdadeira, e cabe a cada um de nós acreditarmos que esta verdade é inviolável.
 De acordo com o historiador Thoomas E. Woods, Galileu durante muito tempo ensinava publicamente a teoria copernicana como uma verdade única e universal, mesmo a Igreja tendo pedido que ele ensinasse como uma hipótese. Mesmo não aceitando o pedido da Igreja, é importante reforçarmos que em nenhum momento o copernicanismo foi considerado algo herético, apenas não tinha comprovações científicas.
Em 1632, contrariando o pedido da Igreja de tratar o copernicanismo como hipótese, Galileu publica o Diálogo sobre os dois grandes sistemas do mundo, obra que o torna suspeito de heresia e mancha a reputação da Igreja. Não se deixando abater, “cientistas católicos continuaram a fazer suas pesquisas, cuidando apenas de tratar como hipótese o movimento da terra, previsto no decreto da Santa Sé de 1616.”
De qualquer modo, podemos perceber que a Igreja busca um diálogo com os cientistas. Galileu, tendo todo o apoio dos líderes religiosos e jesuítas, na soube conter suas próprias expectativas. A Igreja, que reconhecia a teoria copernicana e admirava as descobertas de Galileu só pedia paciência, uma vez que afirmar algo requer comprovações.  Desta forma, a divulgação exagerada da mídia construiu uma imagem de uma Igreja “hostil à ciência”, quando na verdade, ela era a maior motivadora!

São Luís, 20/04/2013
Aline Xavier Bras

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Adversus Haereses

                  Atualmente vivemos em um mundo conturbado de teorias e mais teorias que visam não a elevação de nossas almas, mas a degradação daquilo que acreditamos e cuja toda a realidade nos leva a uma única certeza: a existência de Deus. 
                Já não podemos nos calar diante de tantas inverdades lançadas sobre as pessoas, já nãopodemos permitir que o berço do ensino, o fruto da Igreja Católica, seja o local onde as falsas doutrinas se inserem de forma rápida e descompassada. É com este pensamento que apresento aos blogueiros Rosarium, este belíssimo desabafo de uma alma que a cada dia visa adora m espírito e em verdade.

               
               A presente reflexão nasceu subitamente, a partir de um despautério ouvido em uma sala de universidade, numa aula de literatura. Senti-me impelido a escrever estas linhas como um reflexo instantâneo a algo que tem sido ordinário na cultura contemporânea. Em determinado momento da aula, em seus minutos iniciais (ou seja, o raciocínio não estava ainda capaz de filtrar informações trôpegas oriundas de mentalidades revolucionárias), ouviu-se dizer que Jean-Paul Sartre, ateu convicto, cria numa ideologização de Deus interiorizada ao ser humano. Bem, até aí, ainda que isso talvez não seja intrinsecamente verdade em toda a sua amplitude, vá lá. Porém, em seguida, uma frase ainda mais temerária (para não dizer capciosa) dita com a placidez de uma folha de outono caindo da árvore: “Mesmo porque, gente, talvez Deus seja isso mesmo: uma ideologia interior do homem, uma força humana muito profunda”.
             Certamente não vou me dispor a exigir aqui que todos os seres humanos presentes nas universidades sejam cristãos católicos devotos e santos. Não sou idiota a ponto de crer que isso seja algo além de utopia. Tenho plena consciência também de que as instituições educacionais, sendo particulares ou do governo, não têm como caráter principal o dever de pregar ou estimular a ortodoxia da fé cristã ou de qualquer outra religião, salvo aquelas instituições que sejam declaradamente confessionais. O que de fato me preocupa, surpreende e, poderia até dizer revolta, é a sistemática adoção de uma postura que esteja, pouco a pouco, varrendo para o lixo da psique humana, toda e qualquer relação com o sagrado quando esse sagrado provenha de outro ente, outro ser totalmente diverso da natureza humana. Dito de outro modo: pouco a pouco (ou nem tão pouco a pouco assim, ao que se vê), a relação do homem com qualquer coisa que o eleve espiritualmente está sendo docemente retirada dos conceitos humanos.
            Está certo que nem todos devem crer igual, ainda que eu tenha plena consciência e certeza de fé que existe somente UMA VERDADE, e é esta: JESUS CRISTO, Homem-Deus, enviado a nós pelo Pai para redimir a humanidade. Que outros não creiam nisso, uma pena, mas é justamente essa realidade que enseja que eu viva o testemunho de minha fé. O fato a que aqui me refiro é que a figura dessa fé num Deus providente, misericordioso, amoroso, está sendo desconstruída como alguém que todos os dias usa um sabonete e este vai desaparecendo. Ou por outro lado, se é difícil demais crer que a imagem de Deus em nossa sociedade esteja sendo desconstruída, pode-se perceber que há outra imagem de Deus sendo plasmada nas mentes e corações dos homens de hoje. Como um animal que é caçado, empalhado e posto como enfeite no escritório de um magnata, o que temos na era moderna é uma sociedade que não suporta mais o fato de que necessita de rédeas para chegar ao seu pleno desenvolvimento, e por isso cria para si totens, deuses de neon, simulacros de divindade e, pior ainda, um ser humano que usurpa uma condição pretensamente superior. A partir de tal realidade, podemos entrever nuances ideológicos perigosos traçar paralelos históricos aterrorizantes. Marx, através de suas teorias políticas, propalava a evolução do homem ao SUPER HOMEM, o supra humano; Hitler, desnecessário dizer, demonizou judeus, negros, homossexuais em nome de uma supremacia ariana pura; para falarmos no âmbito religioso, Leonardo Boff, com sua herética (apóstata, na verdade) teologia da libertação, chega a declarar que “Jesus Cristo era, enquanto homem, tão profundamente humano que só poderia, de fato, ser Deus”. Sim, soa bonito e sedutor, tanto quanto uma dose de veneno servida em uma taça de cristal.
            A tudo isso se poderia, com propriedade, chamar de secularização da sociedade, se a atitude não fosse ainda pior do que tão somente secularizar o homem. O fenômeno que ocorre em nosso tempo é claramente uma investida selvagem para que algo, seja lá o que for, se interponha entre Deus e o ser humano, de modo que este já não possa sequer ter a mais vaga lembrança de que um dia creu em uma Vontade alheia à sua, inteligente, superior, criadora e perfeitíssima. Este algo que se atravesse entre o ser humano e Deus, pode tomar diversas cores e formas na era atual, mas, de modo mais perigoso e traiçoeiro, o próprio homem, de modo que ele  se torne o deus de si mesmo. Sob esse véu, aparentemente humanista e promotor da dignidade do homem, escondido como sempre, desde os imemoriais tempos da criação, uma força opositora a Deus, revoltada, tomada de ira se mostra e se desenha como uma sombra na parede. Artigo de fé na religião cristã, ainda que hoje sua existência seja tão contestada e posta em xeque, o príncipe deste mundo dita as regras com que a sociedade contemporânea faz girar a máquina do mundo.
            O Santo Padre Paulo VI, em ocasião de uma de suas audiências públicas, proclamou: “(...) o mal não é somente uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo,  espiritual, pervertido e pervertedor. Uma terrível realidade. Misteriosa e pavorosa. (...)”[1]. Por sua vez, o Beato João Paulo II alertou-nos também acerca desta realidade e, de modo profético, disse em uma de suas catequeses que um dos maiores enganos de Satanás na era moderna é fazer com que já não se acredite mais em sua existência. Não nos faltam, portanto, alertas acerca das artimanhas do inimigo para se infiltrar novamente no seio da criação e levar a natureza humana a dar as costas para Deus. Grassa em nosso tempo a inegável impressão de que, cada vez mais, o homem vê a Deus não como um pai amoroso e misericordioso, mas como um inimigo, um velhaco a quem se deve temer, odiar, ter repulsa. Ora, não há aqui outra coisa senão a mesma sedução enganadora com que Satanás levou à queda nossos primeiros pais.
            É preciso estarmos atentos a esses ardis, a essas sutilezas que a mentalidade moderna tem derramado lautamente em nossos jovens, em nossa mídia, em nossa sociedade de um modo geral. Em nome de uma educação revolucionária, o que se pretende não é outra coisa senão fazer com que o homem chegue à falsa ideia de que a realidade espiritual não passa de mito, crendice, pequenez de raciocínio no pobre intelecto de almas ignorantes, que se deixam levar por medievalismos. O estratagema para isso? Justamente a realidade da qual eu falava no princípio desta reflexão: pílulas de revolta ditadas por professores universitários, frente aos quais, não raramente, a mente de jovens e de tantas outras pessoas se rende facilmente, seduzida por uma retórica bem trabalhada. Chegar, portanto, à plena e categórica negação de Deus, não será difícil, uma vez que, gradativamente, a mente e o coração do jovem vai sendo alimentado com tal veneno.
            É tempo de despertar para tal realidade. É preciso que peçamos ao Senhor a têmpera dos mártires, e um profundo discernimento acerca daquilo que nos cerca. “Mas, ó terra e mar, cuidado! Porque o demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12, 12b). É o tempo da grande tribulação, onde os tribunais a que seremos levados estarão ocultos sob a farsa de salas universitárias onde se proponha um conteúdo em que o homem seja seu próprio deus, levando-o à desgraça de perder-se eternamente.
            Fiquemos atentos à Verdade, pequeno rebanho.
Sub tuum praesidium confugimus,
Sancta Dei Genitrix.
Nostras deprecationes ne despicias
In necessitatibus nostris.

Roberto Amorim.
24 de abril de 2013.




[1] Audiência pública de 15 de novembro de 1972. Vaticano. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Universidade: um fruto da Igreja


Ao longo do nosso Ensino Médio aprendemos que a Idade Média foi um período de trevas, com perdas culturais e de todo e qualquer conhecimento, ou seja, decadência. Mas hoje em dia, são muitos os estudos que desmitifica essa falsa teoria. A Idade Média foi nada mais e nada menos do que o período de desenvolvimento intelectual para o mundo ocidental, período onde se desenvolve por intermédio da Igreja o sistema universitário. Muitos não admitem, mais na época, a Igreja era “a única instituição na Europa que manifestava um interesse consistente pela preservação e cultivo do saber”, afirma o historiador Lowrie Daly.
Tendo seus primórdios nas “escolas das catedrais e nas posteriores reuniões informais de professores e alunos”, as universidades ganham corpo e forma na segunda metade do século XII com o Papado desempenhando “um papel capital na fundação e incentivo” das mesmas. Nesta época, cabia ao Papa ou imperador emitir o diploma sendo que em 1254, Papa Inocêncio IV abre uma exceção à Universidade de Oxford o que contribuiu para a disseminação do conhecimento e comunidade acadêmica.
Este período de desenvolvimento do sistema universitário foi marcado também por conflitos sociais. Esses conflitos eram basicamente entre universidades (estudantes) e o povo. O que acontecia? Que conflitos eram esses? Pois bem, a chegada de estudantes universitários em uma cidade levantava dois pontos: um positivo e outro negativo. O ponto positivo consiste na movimentação do comércio, uma vez que estudantes chegavam com dinheiro, eles movimentavam a economia ao consumir produtos dos comerciantes locais. Os pontos negativos consistem na irresponsabilidade e indisciplinas de alguns estudantes, havia também certa inconformidade dos estudantes com relação aos preços de aluguéis, alimentação e material de estudos, eles achavam os valores abusivos por conta da dureza da sociedade.
Com os estudantes se sentindo ameaçados, a Igreja interveio nessa situação defendendo-os. Essa proteção foi denominada benefício do clero que consistia em protegê-los de qualquer maltrato e em caso de julgamento, eles tinham direito de serem julgados pelo tribunal eclesiástico e não pelo tribunal civil. No ano de 1231, o papa Gregório IX lançou a bula Parens Scientiarum, concedendo às universidades de Paris o “direito à autonomia de governo, com o qual podia elaborar as suas próprias regras a respeito dos cursos e pesquisas”. Por meio deste documento a universidade entra na história “como uma corporação intelectual plenamente formada, destinada ao preparo e aperfeiçoamento acadêmicos”.
Progresso... Para a Idade das Trevas, esse período trouxe para a sociedade em geral bastante luz, luz essa que se estende e como um espelho, reflete a imagem do que foi e do que é até os dias atuais. E dentro dessas luzes, não poderíamos deixar de falar da Idade Escolástica.
A escolástica teve seus primeiros indícios de desenvolvimento no momento em que professores motivavam os alunos a desenvolver a falácia lógica. Eles saiam em busca de estudantes que formulassem argumentos logicamente sólidos.  A escolástica se caracterizava pelo “uso da razão como ferramenta” principal dos estudos teológicos e filosóficos e para a dialética. Alguns dos primeiros escolásticos da história foram: Santo Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo e São Tomás de Aquino. A escolástica se desenvolvendo, diversas teorias fundamentadas na razão ganhava corpo e contribuía diretamente para o conhecimento aprofundado de correntes teológicas e filosóficas.
Períodos de riquezas materiais e imateriais; é assim que a Idade Média precisa ser vista. A Igreja, antes de ser condenada de matar e torturar inocentes deveria e deve ser lembrada pelo legado que hoje nos concede. Graças à força de vontade da Igreja Católica, “a única instituição na Europa que manifestava um interesse consistente pela preservação e cultivo do saber”, desposamos de materiais essenciais para o aprofundamento científico e mais do que isso, contamos com o berço desse conhecimento: a Universidade.
Precisamos aprender muito sobre tudo o que rege a história. A Igreja que é santa e una abriu as portas para a reconstrução do mundo ocidental. Servindo de exemplo e mostrando as mais diversas possibilidades de crescimento científico e tecnológico, a Igreja fez questão de não aprisionar para si tudo aquilo que era descoberto, pelo contrário, ela queria apresentar ao mundo as possibilidades de levantar-se em meio à destruição. Prova disso é de fato a universidade. Fonte de conhecimento universal, contato não apenas com um pequeno espaço, mas com todo o espaço, com todas as culturas e formas de pensar.

São Luís, 10/04/2013
Aline Xavier Bras