Faz um bom tempo que eu não dou
trela ao meu coração. O pobre coitado gritava sempre: “havia uma pedra no meio
do caminho”, há uma pedra no meio do caminho!
Quem não conhece esse belíssimo
poema de Carlos Drummond de Andrade? Pois é, o fato é que este poema para os
dias de hoje ganha corpo, alma e até mesmo dor. Dor para quem é a “pedra” e dor
para quem ver a pedra no meio do caminho: “Nunca me esquecerei desse
acontecimento; na vida de minhas retinas tão fatigadas, nunca me esquecerei que
no meio do caminho tinha uma pedra...”
Preciso dizer a mocidade de hoje
que a pedra tão citada pelo poeta é uma pedra de carne, osso e sentimento. Uma pedra
que passa fome, frio, sede e vive exposta às mais diversas violências. Há uma
pedra no meio de nosso caminho que é desprezada e algumas vezes vista como de
fato fosse uma pedra. Eu pergunto, somos desumanos ou somos pedras para permanecermos
inertes?
Quando voltava para casa,
analisando cada pessoa que estava do lado de fora do ônibus, questionava porque
ver tantas humanos passando necessidade me incomodava tanto. Porque não
conseguia me acostumar com cenas típicas de quase todas as capitais, e porque
mesmo sendo doloroso para mim, eu continuava sem fazer nada com relação a esta
triste realidade. Certa vez escrevi sobre O choro do silêncio natalino, e mais
uma vez verei que o natal é cercado de choros, choros do silêncio. São crianças
e jovens nos sinais, segurando uma flanela qualquer para adquirir alguns
trocados. Horas e horas debaixo do sol e no frio da noite para que na
madrugada, tenha um trocado para saciar a fome do vício. Pobres pequeninos, que
a cada dia perdem um pouco de suas vidas... Vejo logo nas calçadas, crianças
que há muito deixaram de ser criança. Vejo meninas que se tornaram adultas de
forma prematura e agressiva para consigo mesmas. São pequeninos que reviram o
lixo em busca do pão que saciará uma parte da fome guardada há vários dias. Qual
não foi a lágrima que rolou do meu rosto quando vi um pobrezinho encontrar uma
batata podre e sair com um sorriso no rosto mastigando aquele resto como se
fosse a melhor coisa do mundo...
“No meio do caminho tinha uma
pedra” que me fez pensar e repensar que a nossa sociedade precisa se tornar
mais cristã. Onde estão as autoridades? Será que precisamos esperar pelo
Estado? Porque não deixar nosso lado humano agir? Será muito mais prático um a
um deixar-se seduzir pela ação doadora de si do que esperar apenas pelos “reais”
responsáveis para que resolvam algo. Mas, eis aqui apenas um pensamento movido
por um espírito idealista.
Espírito idealista que com o
tempo perdeu-se, pois infelizmente a sociedade não está preparada para assumir
tamanha responsabilidade, infelizmente nossa sociedade ainda é individualista e
mesquinha, infelizmente a nossa sociedade tem muito para aprender sobre o que
vem ser de fato humanidade.
“Nunca me esquecerei desse
acontecimento; na vida de minhas retinas tão fatigadas, nunca me esquecerei que
no meio do caminho tinha uma pedra...”
São Luís, 01/11/2012
Aline Xavier Bras
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