Durante esta
semana, ao ler um artigo da professora Adriana Zierer[1]
passei a refletir sobre a árvore do bem e do mal e o fruto proibido. Absorta
naquilo que o artigo tratava, passei a questionar-me: quem disse que a maçã é o
fruto proibido? Embasada na obra, quero aqui partilhar um pouco sobre a opinião
que a professora e escritora apresenta aos leitores com relação aos
significados medievais que tal fruto carrega em toda sua história.
Ao longo de
nossa existência, tomamos conhecimento da história de Adão e Eva e a origem do
pecado a partir do momento em que estes, ao se deixarem seduzir pelas propostas
da serpente, comem o fruto proibido, atualmente representado pela maçã. Mas
porque a maçã, se a Bíblia não se refere a ela como sendo o tal fruto? Sem
saber como a fruta foi associada ao fruto proibido, Zierer nos apresenta duas
obras de arte no qual ela detalha cada parte da obra a fim de nos fazer
interpretar o equilíbrio existente no meio trabalhado.
A primeira
obra a ser detalhada trata-se da pintura de Lucas Cranach[2]
(1472-1553), Adão e Eva, 1533.
Valorizando sempre o nu, Cranach usava traços sensuais nas suas obras de
caráter religioso e mitológico. Ao representar o primeiro casal humano criado
por Deus, o artista “segue a visão cristã medieval
a respeito do pecado
original”, expondo um equilíbrio entre o bem e o mal e, o forte e o fraco.
Na obra,
percebe-se certa proximidade entre Eva e a serpente. Tal aproximação evidencia
o mal completamente ligado à mulher, que assume uma postura dissimulada perante
o seu companheiro ao esconder a maçã ao mesmo tempo em que lhe oferece outra. Segundo
Zierer, “o ato de esconder sugere ao espectador uma intenção claramente
maliciosa por parte de Eva”. E com relação a Adão? Bem, não posso seguir aqui a
mesma linha da autora, pois ela afirma que Adão estava completamente seduzido
por Eva. Prefiro acreditar que Adão estava confiando em sua companheira. O
olhar fixo nos olhos dela nos assegura tal realidade.
A presença
dos animais também nos revela algumas teorias bastante relevantes. Zierer
acredita que a presença dos animais é que assegura o equilíbrio citado
anteriormente. Símbolo do mal, a serpente foi o canal que convenceu e
encaminhou Eva ao pecado original. A fim de nos mostrar certa “harmonia” nos
espaço apresentado, o artista acrescenta à composição o cervo e o leão com o
intuito de nos mostrar que no Jardim do Éden havia um “convívio pacífico entre
um predador e a sua presa.
“O cervo, que
se encontra próximo de Adão, tem uma analogia com a árvore da vida. Sua galhada
é um símbolo de renovação cíclica, pois renova-se a cada ano. Ele é portado da
luz, inimigo da serpente e representa Cristo” (Zierer, 2013, p. 21)
Estando
associado à força e ao poder (rei das selvas), o leão “simboliza a encarnação
do poder”.
Esta é apenas
uma de muitas interpretações que podem surgir sobre esta obra de arte, o que
não impede de partilhar outras análises, uma vez que esta, em particular, não
explica o real sentido da obra e como ela está associada aos personagens
representados.
Feita a
análise desta primeira obra, Zierer vem nos dizer em seu artigo que a maçã,
possuía duplo significado durante a Idade Média: fruto do pecado original e,
fruto da absolvição do pecado, que veremos logo a seguir em uma segunda obra de
Lucas Cranach.
Na obra A Virgem e o Menino (1525-1530), a
figura da maçã novamente se faz presente com um sentido diferente da obra
analisada anteriormente. Aqui o Menino “segura em suas mãos pão e maçã”. Maria
representa a segunda Eva, que como um antídoto, vem redimir o pecado da
primeira. Logo, nesta
representação, assim como a maçã pode ter um significado
de causadora do pecado, ela também aqui pode representar a salvação, assim como
o pão (corpo de Cristo).
Em latim, maçã
tem a mesma escrita que a palavra mal, mas conforme Zierer, dentro do contexto
medieval, a maçã representa várias culturas e “devido ao fato de suas raízes
mergulharem no solo e seus galhos voltaram-se ao céu, é considerada como
representante das relações entre a terra e o céu” (Zierer, 2013, p. 22). Tal
interpretação faz com que este se torne o “eixo do mundo”, sendo relacionada à
redenção, “que na iconografia cristã é representada como a árvore da vida”.
Também sendo
associada a vários deuses da mitologia grega, a árvore, assim como o seu fruto,
simboliza a fé e o conhecimento, representando Cristo. O fruto também vem
trazer outra reflexão, dor e sofrimento, pois a partir do momento em que eles
(Adão e Eva) adquiriram a capacidade de discernimento ao comer o fruto, eles
também passaram a ter uma vida de tribulações, perdendo a imortalidade e sendo
expulsos do Jardim do Éden.
Eis aqui uma
riqueza de conhecimento que precisa ser partilhado com os demais. Algo que
envolve fé, razão, cultura e conhecimento. Uma narrativa que merece ser
refletida a fim de acrescentar algo em nossas vidas.
Sabendo que a
maça, além de ser associada ao pecado original, nos dias de hoje também vem
representar o sentimento entre os casais apaixonados. Fruto do amor, a maçã é
algo que vê sendo relacionada ao amor em seus mais diversos aspectos, e é por
essa razão que irei usufruir do pensamento de Santo Agostinho em sua jornada de
conversão: “O coração é recipiente do amor divino e os homens devem procurar o
conhecimento através do amor”.
São Luís, 23/06/2013
Aline Xavier Bras