domingo, 23 de junho de 2013

Uma análise sobre o fruto proibido

Durante esta semana, ao ler um artigo da professora Adriana Zierer[1] passei a refletir sobre a árvore do bem e do mal e o fruto proibido. Absorta naquilo que o artigo tratava, passei a questionar-me: quem disse que a maçã é o fruto proibido? Embasada na obra, quero aqui partilhar um pouco sobre a opinião que a professora e escritora apresenta aos leitores com relação aos significados medievais que tal fruto carrega em toda sua história.
Ao longo de nossa existência, tomamos conhecimento da história de Adão e Eva e a origem do pecado a partir do momento em que estes, ao se deixarem seduzir pelas propostas da serpente, comem o fruto proibido, atualmente representado pela maçã. Mas porque a maçã, se a Bíblia não se refere a ela como sendo o tal fruto? Sem saber como a fruta foi associada ao fruto proibido, Zierer nos apresenta duas obras de arte no qual ela detalha cada parte da obra a fim de nos fazer interpretar o equilíbrio existente no meio trabalhado.
A primeira obra a ser detalhada trata-se da pintura de Lucas Cranach[2] (1472-1553), Adão e Eva, 1533. Valorizando sempre o nu, Cranach usava traços sensuais nas suas obras de caráter religioso e mitológico. Ao representar o primeiro casal humano criado por Deus, o artista “segue a visão cristã medieval
a respeito do pecado original”, expondo um equilíbrio entre o bem e o mal e, o forte e o fraco.
Na obra, percebe-se certa proximidade entre Eva e a serpente. Tal aproximação evidencia o mal completamente ligado à mulher, que assume uma postura dissimulada perante o seu companheiro ao esconder a maçã ao mesmo tempo em que lhe oferece outra. Segundo Zierer, “o ato de esconder sugere ao espectador uma intenção claramente maliciosa por parte de Eva”. E com relação a Adão? Bem, não posso seguir aqui a mesma linha da autora, pois ela afirma que Adão estava completamente seduzido por Eva. Prefiro acreditar que Adão estava confiando em sua companheira. O olhar fixo nos olhos dela nos assegura tal realidade.  
A presença dos animais também nos revela algumas teorias bastante relevantes. Zierer acredita que a presença dos animais é que assegura o equilíbrio citado anteriormente. Símbolo do mal, a serpente foi o canal que convenceu e encaminhou Eva ao pecado original. A fim de nos mostrar certa “harmonia” nos espaço apresentado, o artista acrescenta à composição o cervo e o leão com o intuito de nos mostrar que no Jardim do Éden havia um “convívio pacífico entre um predador e a sua presa.
“O cervo, que se encontra próximo de Adão, tem uma analogia com a árvore da vida. Sua galhada é um símbolo de renovação cíclica, pois renova-se a cada ano. Ele é portado da luz, inimigo da serpente e representa Cristo” (Zierer, 2013, p. 21)
Estando associado à força e ao poder (rei das selvas), o leão “simboliza a encarnação do poder”.
Esta é apenas uma de muitas interpretações que podem surgir sobre esta obra de arte, o que não impede de partilhar outras análises, uma vez que esta, em particular, não explica o real sentido da obra e como ela está associada aos personagens representados.
Feita a análise desta primeira obra, Zierer vem nos dizer em seu artigo que a maçã, possuía duplo significado durante a Idade Média: fruto do pecado original e, fruto da absolvição do pecado, que veremos logo a seguir em uma segunda obra de Lucas Cranach.
Na obra A Virgem e o Menino (1525-1530), a figura da maçã novamente se faz presente com um sentido diferente da obra analisada anteriormente. Aqui o Menino “segura em suas mãos pão e maçã”. Maria representa a segunda Eva, que como um antídoto, vem redimir o pecado da primeira. Logo, nesta
representação, assim como a maçã pode ter um significado de causadora do pecado, ela também aqui pode representar a salvação, assim como o pão (corpo de Cristo).
Em latim, maçã tem a mesma escrita que a palavra mal, mas conforme Zierer, dentro do contexto medieval, a maçã representa várias culturas e “devido ao fato de suas raízes mergulharem no solo e seus galhos voltaram-se ao céu, é considerada como representante das relações entre a terra e o céu” (Zierer, 2013, p. 22). Tal interpretação faz com que este se torne o “eixo do mundo”, sendo relacionada à redenção, “que na iconografia cristã é representada como a árvore da vida”.
Também sendo associada a vários deuses da mitologia grega, a árvore, assim como o seu fruto, simboliza a fé e o conhecimento, representando Cristo. O fruto também vem trazer outra reflexão, dor e sofrimento, pois a partir do momento em que eles (Adão e Eva) adquiriram a capacidade de discernimento ao comer o fruto, eles também passaram a ter uma vida de tribulações, perdendo a imortalidade e sendo expulsos do Jardim do Éden.
Eis aqui uma riqueza de conhecimento que precisa ser partilhado com os demais. Algo que envolve fé, razão, cultura e conhecimento. Uma narrativa que merece ser refletida a fim de acrescentar algo em nossas vidas.
Sabendo que a maça, além de ser associada ao pecado original, nos dias de hoje também vem representar o sentimento entre os casais apaixonados. Fruto do amor, a maçã é algo que vê sendo relacionada ao amor em seus mais diversos aspectos, e é por essa razão que irei usufruir do pensamento de Santo Agostinho em sua jornada de conversão: “O coração é recipiente do amor divino e os homens devem procurar o conhecimento através do amor”.
São Luís, 23/06/2013
Aline Xavier Bras





[1] Doutora em História Medieval pela UFF, docente da UEMA e professora colaboradora do Mestrado em História Social da UFMA.
[2] Pintor da corte da Saxônia até 1550 e prefeito de Wittenberg em 1537, foi também um dos expoentes do renascimento alemão.